Janice Santos de Oliveira
Coordenadora de segurança do paciente no Grupo Oncomed
O ano de 2021 segue desafiador para todo o sistema de saúde por conta da pandemia de COVID-19. A segurança do paciente, tema continuamente relevante, neste ano ganha maior dimensão e importância. Desde que o novo coronavírus surgiu, as instituições de saúde se reorganizaram e adequaram protocolos.
Mais do que nunca, a cultura da segurança é imprescindível. No Dia Nacional da Segurança do Paciente, celebrado em 1º de abril, vale reforçar a prioridade com práticas e iniciativas estratégicas para o cuidado seguro e de qualidade em meio à pandemia que assola o mundo. No enfrentamento da doença, surgem desafios que colocam em risco a segurança do paciente e do profissional. Alguns pontos principais merecem mais atenção ao longo de 2021, especialmente em instituições que lidam com pacientes vulneráveis, como os que estão em tratamento oncológico.
A escassez e o esgotamento dos profissionais de saúde: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há um déficit de 18 milhões de trabalhadores no mundo, especialmente em países de baixa e média renda. Esse gargalo é um entrave para a segurança dos pacientes hospitalizados.
Déficit de diagnósticos durante a pandemia: o medo do coronavírus gerou queda de atendimentos e diagnósticos relacionados a outras doenças, especialmente os cânceres. No Brasil, por exemplo, segundo dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), o número de mamografias realizadas entre março e agosto de 2020 no sistema de saúde suplementar do país caiu 46,4% comparado com o mesmo período de 2019. Na rede pública o cenário é similar.
Infecções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS): divulgada pelo Becker’s Hospital Review, uma pesquisa da Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology (APIC) revelou que os profissionais de saúde observaram aumento nas infecções hospitalares em suas unidades de atendimento desde o início da pandemia. O estudo mostra crescimento de 27,8% nas infecções de corrente sanguínea associadas ao cateter; 21,4% nas infecções do trato urinário também associadas ao cateter; e 17,6% em pneumonia associada à ventilação. É preciso ficar atendo à evolução das infecções associadas aos cuidados de saúde durante a pandemia. Elas são um risco para a segurança dos pacientes, especialmente os oncológicos, já que têm alta morbimortalidade.
Considerando as taxas de ocupação de leitos, é importante que, ao longo de 2021, os cuidados sejam redobrados para evitar um caos maior na assistência hospitalar. Devem-se implantar protocolos de segurança para a identificação dos pacientes; rituais de conversa com a equipe para levantamento de situações de riscos assistenciais; capacitação, treinamento e processos educativos para o desenvolvimento da cultura da segurança; revisão e construção de novas ações de prevenção e melhoria na segurança assistencial; administração segura de medicamentos, com uso de tecnologias que permitem a checagem eletrônica; sistemas que produzem alertas automáticos, sinalizem as alergias relatadas pelos pacientes e barrem possíveis enganos de dosagem dos medicamentos; check list cirúrgico conforme as recomendações da OMS; sistematização da assistência de enfermagem no pré e pós-cirúrgico; monitoramento do paciente no período crítico pós-anestesia; prevenção de quedas e lesões; canal exclusivo e sistema eletrônico para o registro de quaisquer circunstâncias de risco.
Esperamos e desejamos que a valorização da segurança dos profissionais de saúde e dos pacientes seja mais um legado pós-pandemia da COVID-19.