David Braga
CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC), conselheiro de RH da ACMinas
As empresas que não se preocupam com aspectos de compliance, gestão humanizada e diversidade não têm mais espaço em nossa sociedade. No que tange ao último item, no entanto, ainda são poucas as organizações que, de fato, saem do belo discurso e aplicam, na prática, esse relevante tema. Especificamente quando se trata de idade, a fala, muitas vezes, está descolada da realidade em relação a profissionais acima dos 55 anos: os gestores e as áreas de recursos humanos manifestam desejo em ter pessoas diferenciadas para a entrega dos resultados corporativos, mas esse interesse continua atrelado ao mindset e às solicitações da década de 80. Situação que precisa ser revista com urgência, uma vez que a multiplicidade de conhecimentos, experiências e competências, sem falar nas formações acadêmicas e ideias, é que gera a tão comentada inovação, além de garantir mais competitividade.
Atualmente, existem intensas discussões acerca das mais variadas esferas de pluralidade englobando raça, cor, gênero e tantas outras formas, o que ganha mais relevância em um país extremamente diversificado como o Brasil. Mas o que se percebe, em síntese, é que muitas empresas querem inovar, mas o candidato não pode ser muito novo; almejam a senioridade, porém, o indicado ao cargo não deve ser velho. Para níveis gerenciais ou diretoria, é frequente ouvir a expressão: “35 a 45 anos”. Sem contar as companhias nas quais os colaboradores se aposentam, compulsoriamente, aos 65. Sendo assim, para onde tem ido o know- how desses profissionais seniores que estão sendo expurgados?
É fundamental que esse assunto seja discutido nos conselhos de administração ou pelos presidentes das corporações, em função da sua importância e por estar totalmente atrelado à governança corporativa. As empresas mais estratégicas já entenderam isso e têm não apenas atraído essas pessoas, como também têm criado programas para esse público, que possui grande conhecimento, repertório e maturidade para a tomada de decisões estratégicas e a condução de vários processos vitais para o negócio.
Aliás, há tempos, pesquisas mostram que a melhor maneira de potencializar o business é justamente mesclar todas as gerações, apropriando-se dos pontos positivos de cada uma. Por exemplo, as companhias presentes na S&P 500 – índice de ações listadas nas bolsas Nasdaq e Nyse, composta pelas mais importantes empresas do mundo – possuem em seus conselhos de administração mais diretores acima de 75 anos de idade do que funcionários com menos de 50.
Paralelamente, vale salientar que a questão do propósito e do legado tem sido cada vez mais decisiva para muitos profissionais ao chegarem a uma idade avançada, pois passam a questionar certas vertentes em suas vidas. Muitos deles, inclusive, decidem buscar novas oportunidades de emprego para, assim, seguir ativos. Alguns nem sequer querem parar, mesmo com a possibilidade da aposentadoria. Então, fica outra grande pergunta: é possível continuar a trabalhar nas organizações, sendo mais velho?. A resposta, definitivamente, é sim.
As corporações buscam, constantemente, profissionais talentosos: aqueles que irão promover relevância para a organização, com novas ideias, novos projetos e questionamentos constantes do status quo. Em resumo, são pessoas que ampliam o debate sobre como as atividades são feitas e, sobretudo, que apresentam ótimos resultados quantitativos e qualitativos. Evidentemente, para se destacar em meio à multidão, mesmo em uma faixa etária avançada, é preciso, também, ter interesse por novas tecnologias, estar sempre atualizado quanto aos conhecimentos e às melhores práticas, bem como reunir o máximo de competências e habilidades (soft skills), a fim de conseguir lidar no ambiente corporativo. Entre elas, escuta ativa, maturidade emocional, gestão de conflitos, flexibilidade, abertura mental, comunicação assertiva e inúmeras outras.
Em um mundo “vuca”, ou seja, volátil, incerto, complexo e ambíguo, a única certeza é a mudança permanente. Conviver com essa inconstância, em todas as esferas da carreira exige abertura mental e criação de sinergias entre as pessoas – que, usualmente, terão idades e repertórios completamente distintos – para que, de forma multidisciplinar, se construam novos caminhos. Portanto, o profissional que quer se manter em evidência, seja de qualquer idade, deve estar, permanentemente, em evolução, de conhecimento e de comportamento. Do contrário, se tornará obsoleto para o mercado de trabalho. Já as empresas, precisam aplicar a diversidade nos seus mais variados aspectos, pois é o único caminho para garantir a perenidade, a inovação e a relevância ao longo do tempo.