Jornal Estado de Minas

Ao mestre Pitanguy, com carinho






Alberto Caldeira
Cirurgião plástico, mestre, doutor, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, membro titular da Federação 
Ibero-Latino-americana de Cirurgia Plástica, da American Society of Aesthetic Plastic Surgery 
e da International Confederation for Plastic and Reconstructive Surgery. Full-fellow do International College of Surgeons, International Society of 
Aesthetic and Plastic Surgery, da ASPS


O Brasil é o segundo país do mundo onde mais se faz cirurgia plástica, em número e procedimentos cirúrgicos estéticos, abaixo dos Estados Unidos. É também o segundo em número de publicações científico-cirúrgicas. A partir da segunda fase da pandemia da COVID-19, houve um crescimento no número de pacientes. Está acontecendo um boom neste início de 2021, e isso em todos os consultórios, mesmo entre a população menos favorecida. Como as pessoas estão mais isoladas, resolveram investir em procedimentos que resultem em uma melhoria da autoestima.





Portanto, vejo uma expansão da cirurgia plástica brasileira no pós-pandemia. O Brasil, por ser um país tropical, isso estimula uma maior preocupação com o corpo. Existe uma necessidade de se buscar a juventude para se manter no mercado de trabalho e para se obter maior aceitação social. Nas décadas de 1960 e 70, a população era formada, em sua maioria, por jovens dos 18 aos 30 anos. Em 1940, a expectativa de vida ao nascer era de 45,5 anos e chegou a 76,3 anos em 2018. Hoje, mais da metade da população encontra-se acima da quarta década de vida.

Há de se considerar a importância econômica desse universo. O Brasil é um mercado que envolve milhões. A cirurgia plástica brasileira, hoje, é representada por cirurgiões de excelência que se assentam sobre os ombros de “gigantes” – os mestres – que elevaram o patamar nacional, nos últimos 60 anos, à posição de respeitabilidade que ela ocupa no mundo. Qualquer congresso de prestígio conta com a presença de pelo menos um cirurgião brasileiro. Assim, lembrei-me do professor mineiro Ivo Pitanguy (1926-2016), da sua importância, não só na minha formação profissional como na globalidade de minha formação filosófica e ética. E a convivência com ele, como seu residente e mestrando, levou-me, de forma inexorável, a planos que jamais teria alcançado sem seus ensinamentos.

Era 1982, o “professor” (como o chamávamos) pediu a um residente que fizesse o prefácio de um livro. O colega, sentindo-se atemorizado com o encargo, transferiu-me a missão. Dediquei-me com afinco. Ao ler, ele me convocou e disse: “A partir de hoje, você tem que estar junto de mim”. E assim me convidou para morar na sua clínica. Só aprendemos através da modelagem pessoal, ou seja, através da introjeção de valores, de atitudes, nos quais absorvemos qualidades e defeitos.

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