Márcio Coimbra
Coordenador da pós-graduação em relações institucionais e governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília
Assim como milhões de brasileiros, pessoalmente sonhava com uma nova política depois dos anos de corrupção petista. Os exemplos passaram pelo mensalão, que gerou distorções em nossa democracia, pelo petrolão, que originou a Operação Lava-Jato. O resultado foi o desejo de mudança que impulsionou a candidatura de Bolsonaro, na qual 57 milhões de brasileiros despejaram seus votos, inclusive este colunista.
Votei em Bolsonaro certo de que, na Presidência, poderia avançar uma agenda liberal. Havia um audacioso plano de reformas e privatizações, além de nomes que defendiam essa mudança, essencial para jogar nosso país em um processo vigoroso de progresso. Já vínhamos de um governo fraco, porém reformista, que deixava um legado que poderia ser aproveitado. Sabíamos que os melhores exemplos de crescimento e melhora de vida ao redor do mundo vinham de países que haviam adotado essas medidas.
Em pouco tempo, entretanto, vimos que os planos foram ficando pelo caminho e que o presidente não possuía o desejo, tampouco a convicção necessária para encampar essas mudanças. Sem uma liderança forte e articulada no Congresso Nacional, as reformas se perderam em meio a jogos de poder de uma bancada e um presidente mais voltados a uma agenda de costumes do que reformar as arcaicas estruturas de um país atrasado.
Para cada um dos grupos que apoiou Bolsonaro, a decepção veio em um momento diferente. Para os lava-jatistas foi a saída de Moro e a certeza de que Bolsonaro usava a Presidência para se blindar e proteger, jamais para impulsionar uma agenda anticorrupção. Para os antipetistas, o governo desmoronou com as indicações de Augusto Aras para a PGR e depois Kassio Nunes Marques para o STF. Os chamados conservadores tradicionais se assustaram com as guinadas bruscas do presidente, que carece dos princípios básicos do conservadorismo: cautela, prudência e moderação.
Nós, liberais, aos poucos fomos deixando o governo na medida em que entendemos que nossa agenda serviu apenas de combustível eleitoral para Bolsonaro. Uma agenda que rendeu votos, mas que não tinha a mínima chance de prosperar diante de um presidente seduzido pelo populismo, vigilante em blindar os seus e que se sentia mais confortável ao lado de militares de baixa patente e parlamentares do baixo clero. Percebemos que era um homem que não estava à altura do cargo ou dos desafios que a posição impõe.
Houve um estelionato eleitoral de proporções épicas. Além de não cumprir a agenda de campanha, Bolsonaro se esforçou em caminhar para o lado oposto, impondo medidas que são diametralmente opostas ao que foi prometido, deixando lava-jatistas irados, antipetistas decepcionados, conservadores irritados e liberais desolados. Bolsonaro no poder tornou-se um presidente abaixo da média, sem projeto, errático, vacilante, agressivo, autoritário, personalista, populista e fraco. Diante de uma presidência tão confusa, o caminho do petismo de volta ao Planalto tornou-se uma possibilidade real.
Assim como 57 milhões de brasileiros, votei em Bolsonaro, mas me decepcionei. Sua nova política não passava de mais do mesmo. Apenas velhas práticas envelopadas de forma diferente. Infelizmente, falta muito para o Brasil optar pela razão longe da polarização cega que nos fez reféns de dois projetos fracassados.