Jornal Estado de Minas

editorial

Dias das Mães: esperança e risco




O Brasil de comerciantes e consumidores assiste à aproximação de uma data que pode ser um divisor de perspectivas, se cuidados e recomendações sanitárias forem observados, ou um alívio temporário, seguido de novos agravamentos e mais restrições, caso um e outro lado se esqueçam de que o país segue no auge da pandemia, com taxas de contaminação e mortes aparentemente em vias de se estabilizar, mas em patamares altíssimos. Ontem, a triste marca de 400 mil óbitos foi ultrapassada. 





O contraste entre oportunidades e risco pode ser medido pelas expectativas em torno da data. O Dia das Mães é visto por setores do comércio como uma esperança de retomada do varejo depois de grandes períodos de quedas nos negócios, determinadas especialmente por restrições em cidades espalhadas pelo país.

Pesquisa de intenção de compras realizada pela Associação Comercial de São Paulo constatou que 59% dos brasileiros pretendem presentear no período, considerado pelo comércio uma espécie de “segundo Natal” de todo ano. Números que fazem brilhar os olhos de comerciantes sufocados por dívidas e quebra de receitas.

Em pesquisa de previsão de vendas para o primeiro semestre feita pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG) ainda em fins de janeiro, o Dia das Mães também ganhava de qualquer outra ocasião quanto à estimativa de impacto nas vendas, na opinião de 36,4% dos entrevistados.





Já no Distrito Federal, o Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista-DF), que representa 30 mil donos de lojas, estima que o lucro deve crescer 2% este ano. Não parece muito, mas o cenário é bem melhor que o de 2020, quando o país sentia os primeiros efeitos econômicos da crise sanitária, e os ganhos do setor tiveram queda de 41% na ocasião, em âmbito nacional.

Diante das promessas de reaquecimento, as escolhas que se apresentam parecem claras, assim como suas consequências. Apostar todas as fichas na data, mas sem os necessários cuidados com medidas de segurança e distanciamento surge como uma tentação a ser evitada, tanto por lojistas quanto por clientes.

Ceder ao impulso de recuperar, a qualquer custo, tempo e lucro perdidos em períodos de restrição pode significar abrir flancos a novos avanços da COVID-19, com consequências econômicas desastrosas – pois outras restrições serão inevitáveis – e custos sociais imprevisíveis.





Obedecer aos protocolos sanitários disponíveis em várias cartilhas, por outro lado, pode representar menos consumidores nas lojas, maior despesa com prevenção e, portanto, menos dinheiro em caixa. Mas, considerando médio e longo prazos, aparece como a alternativa mais segura para preservar a saúde de clientes, trabalhadores e empresários, além da própria economia local, evitando que cidades, de um ponto de vista mais amplo, estejam expostas a novos picos de contaminação. O efeito colateral desejável, nesse caso, é a manutenção de lojas abertas por mais tempo, sem a necessidade de novos fechamentos de atividades.

Diante dessas opções, a contribuição da população e a fiscalização do poder público são fundamentais para tentar manter o controle sobre os indicadores da COVID-19. É o que assinalam especialistas, enquanto a imunização contra a doença não atinge velocidade e patamares ideais. O aumento das transmissões em tempos de comércio flexibilizado tende a acontecer, como assinala o infectologista Geraldo Cunha Cury, da Universidade Federal de Minas Gerais. O quanto vai aumentar, depende de todos, completa. Pelo menos até este Dia das Mães, a fórmula da vacina mais acessível continua sendo combinar cautela e prevenção para preservar saúde e economia.

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