Segundo país onde a COVID-19 mais ceifou vidas – atrás apenas dos Estados Unidos, em números absolutos –, o Brasil chega aos 500 mil mortos em um cenário de extrema gravidade: diante do crescente aumento nos registros de casos e de óbitos pela doença, sem ter conseguido acelerar a vacinação a um ritmo capaz de frear a escalada letal do coronavírus e, alertam especialistas, na iminência de enfrentar uma devastadora terceira onda da pandemia. Tudo isso, em pleno início de inverno, quando as temperaturas caem, favorecendo a disseminação de viroses e doenças respiratórias, como a provocada pelo Sars-Cov-2.
Na Inglaterra, mesmo com a maioria da população vacinada, o primeiro-ministro, Boris Johnson, decidiu adiar o fim das restrições contra a COVID-19, inicialmente previsto para amanhã. “A hora é de tirar o pé do acelerador”, disse o premiê na última segunda-feira, diante do temor, expressado por cientistas, do impacto que a disseminação da mutação Delta do coronavírus – identificada primeiramente na Índia – possa provocar no país. Na última semana, destacou Johnson, houve aumento de 64% no número de casos da nova cepa identificados entre os britânicos, enquanto as hospitalizações tiveram alta de 50%.
No Brasil, a vacinação da população com a primeira dose está em torno de 30%. Em 31 de março, o epidemiologista Wanderson de Oliveira, ex-secretário nacional de Vigilância em Saúde, afirmou que o país precisaria acelerar o ritmo da imunização contra a COVID-19, com média de 2,5 milhões de doses aplicadas por dia, para conseguir chegar em 31 outubro com toda a população com 18 anos ou mais vacinada.
O mais perto que a campanha nacional de imunização conseguiu chegar da marca apontada por Oliveira foi a inoculação de 2,2 milhões de doses na última quinta-feira. Até agora, a média de vacinação de junho tem sido de 1,2 milhão de doses diárias. Se mantiver esse patamar, especialistas calculam que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, conseguirá cumprir a promessa de imunizar toda a população adulta até o fim do ano. Contudo, os graves sinais de chegada da terceira onda exigem que as aplicações diárias de imunizantes sejam aceleradas.
Em boletim divulgado na quinta-feira, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) advertiu para o risco de agravamento da pandemia no inverno, com a sazonalidade das síndromes respiratórias. Situação mais crítica, ressaltaram pesquisadores, diante da falsa sensação de segurança da sociedade à medida que a vacinação avança no país. “A gente conseguiu reduzir em relação ao pico de março, mas continuamos observando, ainda, valores semanais considerados extremamente elevados (de casos) na maior parte do país”, disse Marcelo Gomes, coordenador do estudo. Assim como no Reino Unido, o grave quadro do Brasil exige cuidados e prudência. Não é hora de dar mau exemplo. Nem de relaxar nas medidas protetivas.