David Rosa e Gisele Monteiro
Colaboradores do Laboratório Hermes Pardini
No mês de junho, é celebrado o mês do orgulho em todo o mundo, época em que acontecem as grandes Paradas do Orgulho LGBTQIA+, inclusive agora no novo formato virtual, momento em que grandes marcas vestem a bandeira do arco-íris demonstrando apoio à causa, e que de alguma forma enxergamos tudo mais colorido. Um presente marcado pelas cores se ainda não vivêssemos o tom sombrio dos maiores índices de violência que o Brasil lidera contra a população LGBTQIA . Segundo relatório do Grupo Gay da Bahia, em 2020, 237 cidadãos tiveram morte violenta vítimas da homotransfobia.
É por conta da violência que desde 28 de junho de 1969 a população LGBTQIA decidiu não mais se calar. A Revolta de Stonewall foi o estopim para que houvesse o grito de liberdade tão necessário para o início da luta por direitos e contra toda forma de preconceito. Vale lembrar que qualquer prática homossexual era considerada crime em todos os estados dos EUA até 1962.
Hoje, com um pouco mais de 50 anos de luta ainda nos deparamos com estatísticas tão tristes. O Brasil tem a maior Parada do Orgulho do mundo, foi um dos primeiros países a descriminalizar a homossexualidade, mas ainda tem o maior índice de violência contra a população LGBTQIA .
Trazendo a discussão para o mundo do trabalho, entendemos que ainda é preciso que haja reivindicação por parte de movimentos, coletivos, indivíduos LGBTQIA e aliados em busca de direitos e acesso a espaços que ainda são negados. Hoje, lidamos com um cenário dividido entre invisibilidade e preconceito X inclusão.
A pesquisa Getting to Equal 2020, da Accenture, constatou que 55% das pessoas LGBTQIA consideram que existe um impacto negativo em se declarar fora da heteronormatividade no ambiente corporativo. Esse dado aparece em um cenário onde as manifestações públicas de empresas em apoio à causa tornam-se cada vez mais frequentes.
O apoio no ambiente corporativo passa a ser ainda mais decisivo quando olhamos para as violências e microagressões enfrentadas por pessoas LGBTQIA na sociedade. A independência financeira conquistada por meio do trabalho torna-se fundamental a tantos que nem sequer contam com o acolhimento e o respeito entre seus familiares.
O silêncio é parte da vida de muitas pessoas LGBTQIA no trabalho, onde evitam falar sobre aspectos da vida pessoal, como todas as demais pessoas fazem, ou até mesmo precisam mentir ou fingir para ser integrados e não ser vitimados pelo preconceito manifesto. O desconforto e o medo começam no processo seletivo, quando relatos da vida pessoal são omitidos ou negados a fim de garantir que não sejam empecilho para uma contratação – e mesmo após serem contratados, para muitos, o receio de não serem apoiados por suas lideranças e times persiste.
É importante analisarmos se as práticas corporativas têm caminhado no sentido de tornar de fato as empresas mais inclusivas. É importante compreendermos que uma mudança cultural demanda tempo e não pode ser motivada apenas ao interesse de projeção externa, sendo fundamentada em processos e políticas que precisam ser de conhecimento de todas as pessoas da empresa.
Em um contexto em que ainda é preciso rememorar as violências cometidas contra as pessoas LGBTQIA , o posicionamento das empresas sobre essa pauta torna-se não somente necessário, mas urgente. Ao longo do mês de junho, as celebrações em relação às lutas em favor da vida e da garantia de direitos e respeito tornam o tema o foco de muitas ações e divulgações, mas também precisam ser espaço para que seja construída a sustentabilidade dos processos de incluir, acolher, respeitar e valorizar as pessoas.