Jornal Estado de Minas

Reabrir as escolas de forma gradual, segura e efetiva





Priscila Cruz
Presidente-executiva do Todos pela Educação. Mestre em administração pública pela Harvard Kennedy School of Government, graduada em administração de empresas pela FGV-SP e em direito pela USP

Herdeiros de uma terra que parece incansável na arte de produzir riquezas – na cultura, na gastronomia, na arquitetura e na economia –, superar barreiras aparentemente intransponíveis e liderar pelo bom exemplo, os mineiros têm uma chance de ouro de prestar um serviço enorme ao futuro do estado e ao Brasil inteiro. Neste momento em que o segundo semestre de aulas já começou, uma missão está dada desde já aos gestores públicos de Minas Gerais: intensificar o trabalho de enfrentamento da pandemia na educação e a retomada das aulas presenciais nas escolas públicas do estado.





O chamado vale para o governador, prefeitos, secretários de Educação e de Saúde, gestores educacionais, professores, parlamentares – toda e qualquer pessoa que esteja preocupada com o presente dos alunos e o futuro do estado.

Os efeitos brutais da pandemia sobre o aprendizado e as desigualdades educacionais não são algo facilmente mitigável. Organizações como Unesco e Unicef têm apontado as múltiplas dimensões do impacto, como perdas de aprendizagem, riscos de abandono escolar e consequências psicossociais. Os prejuízos não devem ser vistos como irrecuperáveis, mas há muito trabalho a fazer.

Minas precisa superar a judicialização que impõe incertezas sobre a retomada das aulas presenciais no estado. Acelerar o retorno de forma gradual, segura e efetiva é a missão que deve unir todos – e a tarefa vai muito além da reabertura pura e simples. Pesquisadores ligados à Rede de Pesquisa Solidária, da Universidade de São Paulo (USP), divulgaram estudo que identificou lacunas nos protocolos estabelecidos para a retomada das aulas presenciais. Eles concluíram que a falta de coordenação entre o governo federal e os que estão na linha de frente do combate ao coronavírus levou muitos governadores e prefeitos a investirem em políticas pouco eficazes. Minas obteve a nota 65 (no máximo de 100), ficando em oitavo nesse ranking. Um bom resultado, mas que pode melhorar com algumas premissas essenciais:

1. Aceleração da vacinação dos professores. Minas avançou na vacinação dos profissionais de educação a partir de junho, e ainda que não deva ser entendido como condicionante para o retorno, isso é aspecto fundamental dado o contexto atual e para aumentar a segurança e a confiança da comunidade escolar;

2. Foco na organização e na implementação dos protocolos sanitários já conhecidos, como distanciamento social, uso de máscaras específicas, disponibilização de álcool em gel, ventilação, sanitização dos ambientes, além de monitoramento e rastreamento dos casos;

3. Reconhecer a inadequação de algumas escolas dentro das redes de ensino e prepará-las para tal. Essa inadequação, todavia, não pode imobilizar o avanço onde já existem condições de infraestrutura. Acima de tudo, exige que governos estaduais e prefeituras iniciem reformas e melhorias na infraestrutura escolar nos locais ainda não adequados;

4. Não basta apenas reabrir as escolas, é preciso que a resposta educacional seja contundente. Há um conjunto de respostas necessárias, como a busca ativa por alunos, estratégias de acolhimento e recuperação de aprendizagem, e atenção especial a alunos mais pobres e em situação de vulnerabilidade;

5. Coordenação e cooperação entre estados e municípios. Se é uma regra de ouro para a melhoria de políticas educacionais em geral, torna-se mais necessária numa crise. Isso inclui o compartilhamento de estratégias, apoio técnico e financeiro e comunicação entre lideranças políticas. Minas sabe bem a importância disso e está se organizando para tal, como mostra o Projeto Mãos Dadas, que visa ampliar o regime de colaboração entre o governo estadual e as prefeituras.





É um trabalho complexo e desafiador, mas exatamente por isso não podemos esperar o fim da pandemia, ou ver uma população 100% vacinada. Nós, do Todos Pela Educação, temos defendido por todo o Brasil esta ideia-força capaz de mover corações e mentes de norte a sul do país: uma reabertura das escolas de forma gradual, segura e efetiva. Uma retomada das aulas presenciais que preserve a vida e a segurança da comunidade escolar e assegure o presente e o futuro de milhões de crianças e de jovens. Não há melhor e mais poderoso projeto de país do que esse.

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