Gilson E. Fonseca
Sócio e diretor da Soluções em Engenharia
Geotécnica Ltda. (Soegeo)
As operações de crédito no Brasil, em junho deste ano, atingiram a astronômica cifra de R$ 4,2 trilhões, ultrapassando 50% do PIB. Crédito é sempre bem-vindo, pois a economia não gira sem ele. Entretanto, sem lastro adequado dos tomadores, é um convite à inadimplência e consequente enfraquecimento econômico. Nas décadas passadas, talvez pelas dificuldades da época e medos ainda não dissipados da Segunda Grande Guerra, as famílias mineiras educavam seus filhos a sempre terem poupança e fugir de dívida, ao ponto de se ouvir diante de oferta de crédito: “Só compro com o cobre no bolso”. Essa orientação era tão forte que o antigo Banco da Lavoura (mais tarde Banco Real, hoje Santander), numa estratégia de marketing bem-sucedida, lançou um cofrinho, com o mesmo design dos cofres grandes, inclusive de metal, chave e cor verde-oliva. Além de atrair os adultos, a meninada pressionava os pais a abrir contas no banco, para ganhar o desejado cofrinho, que, para ela, servia de uma saudável competição entre seus pares. Quem conseguia poupar mais, além do justo orgulho, sentia-se confiante com seu futuro.
Os filhos e netos dessa geração parece que já perderam o ensinamento dos avós e estão se deixando levar pelos apelos da mídia, em detrimento dos valores financeiros e espirituais sólidos daquela época, já que o sentido da poupança não era para financiar luxos, mas garantir saúde, educação e dar estabilidade à família. Agora, o que estamos presenciando é que a cada dia maior número de pessoas, de todos os níveis intelectuais, não resistem ao crédito fácil, aceitando o traiçoeiro raciocínio de que “o importante é o valor da prestação caber no bolso”. Assim aconteceu com o subprime americano em 2008: crédito farto sem garantias, levou muita gente a financiar, não só a sua moradia, mas outra para alugar, na ilusão de que o valor da prestação era menor do que o aluguel e nesse caso “sempre haveria um ganho”. Aconteceu o que sabemos: queda no emprego e consequente inadimplência levaram pessoas físicas, bancos e financeiras à falência, mexendo com toda a economia global, inclusive aqui no Brasil, com fuga de capital estrangeiro. Eu próprio tenho uma sobrinha moradora lá que, também seduzida pela ideia de comprar outra casa para alugar, justamente em 2007, não encontrava locatário e o financiamento tirou o sono da família por um longo tempo, até conseguir negociar com o banco e devolver a casa.
Muitos incautos não se dão conta de que um crédito aceito, no mesmo instante nasce uma dívida. O principal remédio para alavancar a economia é o crédito, mas sem lastro real pode tornar-se um veneno, sobretudo no nosso governo, que a cada dia se mostra populista, e todo governante assim se torna lerdo nas ações que desagradam à população. A julgar pela falta de atitude, esse risco irá assombrar-nos ainda por muito tempo. Os sinais estão aí: empresas fechando as portas e pessoas perdendo seus bens e empregos.