É sempre positiva a notícia de que houve queda na taxa de desemprego, principalmente em momentos de crise econômica. Mas são também esses momentos de turbulência que devem nos servir para afastar a ilusão de que pequenos sinais de melhora possam significar reversão do quadro ou mesmo encaminhamento para a solução dos problemas do mercado de trabalho brasileiro. A taxa de desocupados em relação à população economicamente ativa ficou em 13,7% no trimestre móvel encerrado em julho, um ponto percentual abaixo dos 14,7% verificados no trimestre finalizado em abril, e estável em relação a julho do ano passado, quando o desemprego foi de 13,8%. Ainda assim, o Brasil tem 14,1 milhões de brasileiros sem trabalho, conforme dados do IBGE.
É certo que esse contingente tem 676 mil pessoas a menos do que em abril, mas aqui vai a primeira observação que é preciso ter. Entre o trimestre encerrado em abril e o de julho, o número de trabalhadores na informalidade saltou de 34,2 milhões para 36,3 milhões, o que representa 2,1 milhões de trabalhadores a mais ocupados, mas sem carteira assinada. Isso indica que grande parte dos que recuperaram o trabalho optaram por uma vaga sem garantias legais e provavelmente recebendo menos que o salário mínimo. Há ainda 31,7 milhões de subutilizados, o que inclui os desempregados e outros 17,6 milhões de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas ou na força de trabalho.
Um efeito dessa informalidade é o impacto na renda real do trabalhador, que vem em queda. Era de R$ 2.750 em julho de 2020, passou para R$ 2.583 em abril e em julho caiu mais um pouco e ficou em R$ 2.508. Em dólar, considerando a cotação de R$ 5,40, esse rendimento corresponde a US$ 461 – no caso do salário mínimo, são US$ 202. Comparando com outros países, essa renda do trabalhador brasileiro dolarizada é menor do que o salário mínimo da Coreia do Sul (US$ 797), do Japão (US$ 944) e muito inferior à menor quantia paga pelo trabalho na França (US$ 1.454) e nos Estados Unidos (US$ 1.380), por exemplo.
Com 14,1 milhões de trabalhadores desempregados, o Brasil ainda tem uma das maiores taxas de desemprego do mundo. Na realidade, menor apenas do que África do Sul (34,4%) e Espanha (14%) e pouco acima da Grécia (13,2%), conforme dados do site português www.countryeconomy.com, que reúne informações econômicas de vários países. É essa a realidade do nosso mercado de trabalho, que tem um número alto de desempregados e trabalhadores na informalidade, com um padrão de renda abaixo do nível de países desenvolvidos. E é essa realidade que precisa ser atacada por políticas que favoreçam a abertura de postos de trabalho formais para reduzir a taxa de desocupação e elevar a renda média.
É preciso definir medidas que incentivem a retomada dos investimentos e a abertura de postos de trabalho. E essa ação pública se faz urgente diante da retomada da atividade econômica com o avanço da vacinação contra a COVID-19 e a redução do número de casos e mortes pela doença. Para o desenvolvimento econômico e a redução da brutal desigualdade que existe no país é preciso mais empregos – e empregos com salários melhores. Sem essa premissa, a economia brasileira está condenada a não aproveitar as mudanças em curso no mundo para mudar de patamar e voltar ao grupo das 10 maiores economias do planeta.