Flávia Faria
Gerente comercial da Digisystem
A presença de mulheres no mercado de tecnologia vem crescendo ano a ano. É o que revela a pesquisa realizada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que aponta que a participação feminina na área cresceu 60% nos últimos cinco anos, passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil, em 2019. Nesse contexto, em que o mercado era de apenas 20% de mulheres, cada espaço conquistado deve ser comemorado, uma vez que a estatística ainda está longe de ser a ideal.
Durante a pandemia, a força da mulher foi expressa quando nos deparamos com diversas demandas ao mesmo tempo: cuidar da casa, dos filhos e participar de reuniões por videochamada, tendo que orquestrar todas as situações com maestria. Mas, quando falamos sobre a rotina de trabalho, no dia a dia infelizmente ainda contamos com diversas barreiras em que o machismo é evidenciado.
Por exemplo, em empresas de tecnologia, algumas vezes presenciei casos de mulheres tendo que provar que são capazes e preparadas para realizar tarefas corriqueiras, como a manutenção em computadores, troca de impressoras, entre outras. Essa comprovação de capacidade está entre as questões que precisam ser vencidas pelas mulheres no dia a dia, uma vez que os homens não passam por esse tipo de situação.
Outro desafio comum relacionado a essa estrutura machista no mercado é a falta de crédito às mulheres, especialmente em posições de liderança. Apesar de 41,8% dos cargos de liderança nas empresas serem ocupados por mulheres, segundo o IBGE, mulheres frequentemente são tachadas como “bravas” porque têm de usar sua resistência e rigidez para conquistar o respeito dos colegas diariamente.
Mas, como impulsionar a presença feminina no setor?
A sororidade é um dos pontos mais importantes no que tange à presença das mulheres em empresas de qualquer área, inclusive de tecnologia. Quanto mais apoio tivermos pela igualdade de gênero nas profissões e no salário, mais fomentamos a movimentação feminina no mercado. É importante ressaltar que as mulheres buscam tanto quanto os homens estudar, ler e se atualizar para alcançar cargos de liderança. Em estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foi constatado que a previsão é de que, se o ritmo de avanço continuar o mesmo em 10 anos, a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro deve crescer mais do que a masculina em muitas áreas – a ciência e tecnologia são algumas delas. Daí a relevância de seguirmos apoiando e contratando mulheres.
Outra questão a ser trabalhada nas empresas é com relação à divulgação de oportunidades de mulheres no mercado, que deveria ser ainda maior para que elas se sintam confortáveis em se inscrever e ocupar posições. Um exemplo cultural disso é o filme “Estrelas além do tempo”, que apresenta a história de três mulheres negras da Nasa que conquistaram seu espaço e superaram as adversidades impostas pela sociedade.
Nesse sentido, torna-se fundamental a criação de comitês dentro das organizações que visam à melhoria da experiência profissional das mulheres. Ouvir o que elas têm a dizer pode resultar em uma estratégia mais assertiva do que é necessário ser feito para que haja maior igualdade. Além disso, existem vários grupos que proporcionam palestras e mentorias para empoderar mulheres em seus espaços de trabalho.
É importante também inserir temas envolvendo tecnologia desde cedo na educação, para que mulheres que se interessem pelo tema não se sintam sozinhas na jornada e tenham confiança em entrar no segmento. A presença das mulheres na tecnologia é um exemplo de resistência e resiliência. Trabalhando na educação, capacitação, na sororidade e investindo em oportunidade, podemos sim alcançar nossos objetivos. As mulheres podem tudo.