No horizonte, os sinais que se projetam indicam que o mundo ainda tem pela frente uma longa e penosa batalha contra a COVID-19. Mas há avanços. Desde junho, no Brasil, o avanço da vacinação derrubou todos os indicadores de gravidade da pandemia. Um exemplo-chave: o mais populoso estado, São Paulo, encerrou setembro com a média de 132 mortes por dia, a menor desde novembro do ano passado. No caso das internações por coronavírus em leitos de unidade de terapia intensiva (UTIs), a média diária de 608 pacientes é a mais baixa entre os paulistas desde maio de 2020. No país, no entanto, a tendência acentuada de queda que se verificava nesses indicadores havia quatro meses consecutivos encerrou a última semana sem um viés claro de que os números se manterão em trajetória descendente.
No cenário globalizado da pandemia, vale destacar a situação de Portugal. Lá, a campanha de vacinação tem ampla adesão dos cerca de 10,3 milhões de habitantes, tornou-se a mais bem-sucedida do planeta e derrubou todos os trágicos indicadores ligados ao coronavírus. Com 85% da população completamente imunizada, o país se tornou uma espécie de laboratório de ponta para cientistas de todo o mundo, que acompanham atentamente os desdobramentos da pandemia em terras lusitanas. Lá, no atual momento, ocorre uma clara e rápida redução no número de óbitos, casos e internações ligados à COVID-19. E a taxa de mortalidade é metade da média da União Europeia e nove vezes menor que a dos Estados Unidos.
No Brasil, até a última sexta-feira, pouco mais de 70% da população de 213,3 milhões de habitantes havia tomado pelo menos uma dose ou dose única de vacina contra a COVID-19. E 42,9% estavam completamente imunizados. Contudo, as perspectivas no país, depois de tantos entreveros, são animadoras: pesquisa do instituto Datafolha mostrou que 94% dos brasileiros estão dispostos a se vacinar. Coincidentemente, dois dias atrás, no território nacional, o percentual de adultos que já receberam ao menos uma dose de vacina estava em 93,3%. Logo, caso não faltem injeções do fármaco, é provável que o contingente de brasileiros imunizados chegue a um patamar próximo ao da marca lusitana.
No entanto, a realidade, hoje, é que tanto o Brasil quanto o mundo têm muito a aprender com a experiência de Portugal, na guerra sem trégua contra o coronavírus. E um dos aspectos do combate que mais chamam a atenção diz respeito à vulnerabilidade das pessoas com idade mais avançada. Lá, praticamente, 100% dos idosos foram completamente imunizados. Todos receberam doses da vacina da Pfizer. E, no início, atestaram pesquisadores lusitanos, 95% desenvolveram anticorpos. Porém, seis meses depois, houve uma drástica queda na imunidade, a exemplo do que já havia ocorrido nos Estados Unidos, Israel e, neste momento, acontece no Brasil.
No mais recente Boletim do Observatório COVID-19, divulgado na sexta-feira, a Fiocruz volta a destacar os bons resultados da vacinação no Brasil, com queda nas taxas de mortes, casos e internações, mas adverte sobre a situação dos idosos: “57% das internações e 79% dos óbitos ocorreram nessa faixa”, destacam os pesquisadores. Por isso, no momento, além da primeira injeção em adolescentes, a campanha de imunização no Brasil investe na aplicação da segunda dose na população que ainda não tomou o reforço e na terceira dose para quem tem 60 anos ou mais.
Em Portugal, mesmo com a imunização mais avançada do planeta, o “novo normal” ainda não é tão normal quanto gostariam as autoridades sanitárias. Por isso, o país ainda mantém medidas de proteção contra a COVID-19, como a exigência de passaporte da vacina e o uso de máscaras em ambientes fechados. É uma lição que não deve ser ignorada. Nem pelo Brasil nem pelo mundo.