Gustavo Luiz Gava
Filósofo e doutor em Filosofia da Mente, professor
do curso de pedagogia da Universidade Positivo
As dificuldades de aprendizagem se tornam uma preocupação cada vez mais pontual quando pensamos no desenvolvimento psicológico e no tempo de aprendizagem de cada criança, uma vez que, no ambiente escolar, pode haver a manifestação de uma dificuldade de aprendizagem peculiar que diverge das demais. Ou seja, uma criança pode apresentar uma diferença cerebral que faz parte do tempo individual de aprendizado.
Às vezes, essas diferenças podem ser observadas em um primeiro momento pelos professores que trabalham diretamente com as crianças em sala de aula. Em um segundo momento, outros profissionais como psicopedagoga(o), neuropsicóloga(o), psiquiatra infantil, ao receberem a criança indicada com uma possível dificuldade comportamental e/ou intelectual, buscam desenvolver um método de intervenção pedagógica ou o acompanhamento clínico terapêutico, a fim de, inicialmente, amenizar o problema.
Uma coisa é certa: não há dois cérebros iguais no mundo. Por isso, cada criança é um ser único, com características psicológicas e emocionais exclusivas. Atualmente, conforme nos apontou o pesquisador Howard Gardner, sabemos que as crianças também possuem diferentes tipos de inteligências a serem estimuladas, despertadas e construídas em todo o processo de ensino-aprendizagem. Sejam elas a inteligência emocional, a musical, a matemática, a corporal, entre outras. São as denominadas inteligências múltiplas. Mesmo assim, vale destacar que, quando discutimos o comportamento em sala de aula e o ritmo de aprendizagem, as características emocionais estão em evidência. E, como Henri Wallon nos mostrou assertivamente há anos, o fator emocional observado no comportamento das crianças está relacionado diretamente às experiências afetivas vivenciadas em ambiente social: família, escola, sociedade.
Com isso, queremos dizer que as dificuldades de aprendizagem fazem parte de um fenômeno de diversidade cerebral. Ou, assim como divulgado por Judy Singer, estamos lidando com um fenômeno neurológico diferente e atípico no século 21. O universo de discussão da neurodiversidade abrange psiquiatras, psicólogos, pedagogos, sociólogos, filósofos etc., que procuram analisar essas dificuldades antecedendo diagnósticos de doença mental.
As dificuldades passam a ser observadas como fenômenos diversos que são mais conhecidos por Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), ou seja, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Mas, e se essas diferenças forem emocionalmente divergentes em um contexto escolar, o que professores e coordenadores pedagógicos devem fazer?
Quando sofrem algum trauma de infância, além da experiência comprometer o desenvolvimento de sua aprendizagem, é previsto que as crianças apresentem, às vezes, o TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade). Sabemos que esse transtorno é responsável por caracterizar a dissociação psicológica, e até afetar a memória, o comportamento, o sentimento e a própria identidade da criança. Ou seja, ela pode criar, como forma de proteção e fuga, uma outra personalidade ou até mais de uma, desencadeando, assim, várias dificuldades inconscientes ou divergentes no processo de aprendizagem.
Quem assistiu ao filme "Coringa" (Joker), agora poderá entender, por uma visão psicológica, o porquê do personagem ter se tornado o Coringa (não há spoiler). Os traumas são oriundos dos seus estímulos primários da infância e até do seu isolamento e fracasso social. Eis aí, o pano de fundo de uma catarse (descarga emocional) para o TDI do personagem. Mas seria possível identificar e tratar o transtorno, caso fosse percebido em sala de aula? Possivelmente sim. Por isso, o mais assertivo é procurar ajuda profissional multidisciplinar para a criança. A escola e os pais devem estar juntos nessa busca.