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editorial

Ciranda imperfeita num país de risco

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O Brasil projetado nos computadores dos investidores se distancia rápido do país que o governo tenta vender como economia em franca recuperação, seguindo o que os economistas chamam de crescimento em “V”, representação de vertiginosa expansão após queda. Na semana passada, em mais uma de suas colocações inadequadas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, classificou de “conversinha” as previsões que vêm indicando inflexão das taxas de expansão do PIB e aumento da inflação.




 
Guedes insiste num cenário descolado dos rumos dos indicadores econômicos e vai na contramão do próprio Banco Central, sem convencer sobre a tese de que “cada um vai fazer o seu trabalho” pelo crescimento. Ao que parece ser uma pregação em deserto, a autoridade monetária promoveu o maior aumento da taxa básica de juros em quase duas décadas, enquanto o Palácio do Planalto avança o sinal do gasto público.
 
A deterioração das contas do governo, que articulou a liberação de bilhões em ano eleitoral, leva a taxa básica de juros da economia de 6,25% ao ano para 7,5% anuais, ao nível mais alto dos últimos quatro anos. Com surpresa, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro considerou o aperto exagerado pela simples razão de que a inflação elevada não resulta de demanda da po- pulação. Em seu comunicado, o Comitê de Política Monetária apresentou como justificativa a piora do quadro fiscal.
 
A expectativa é de que a Selic encerre 2021 em 9,25% ao ano. Para 2022, pela primeira vez, espera-se que a taxa rompa os dois dígitos e fique em 10,25%. As previsões de inflação subiram pela 30ª semana, agora de 8,96% a 9,17% neste ano e de 4,40% a 4,55% em 2022. São números bem superiores ao centro da meta de 3,75% em 2021.




 
Outros países, como o Brasil, convivem com crise de insumos, a exemplo da energia elétrica, e a retomada da economia mundial pressiona a oferta dos combustíveis, traduzida na elevação dos preços do petróleo. A diferença está nas incertezas política e fiscal irradiadas do Palácio do Planalto e que alimentam os reajustes decorrentes do custo de matérias-primas e seus reflexos na desvalorização do real frente ao dólar.
 
Esse desafio, no entanto, só parece ser percebido e combatido pelo BC. Enquanto isso, o ministro defende o drible no teto de gastos, o adiamento do acerto dos precatórios e desconhece as dificuldades que os juros mais caros vão impor a um país que necessita crescer. A diretriz que os analistas de bancos e corretoras sinalizam é de que Selic não terá volta e deve alcançar dois dígitos no ano que vem.
 
A falta de convergência no discurso do governo se agrava quando o BC promove arrocho monetário que os brasileiros não viam há anos, uma espécie de tiro no pé, já que o Brasil precisa é de crescer e transformar recuperação de emprego, frente a 2020, em abertura sustentável de vagas. Não aquelas dominadas pela informalidade, mas as oportunidades capazes de frear a desocupação com oportunidades de trabalho que não venham precarizar as condições do trabalhador.
 
A ciranda que complica a situação do país está formada. A mesma decisão de turbinar os juros básicos da economia como mecanismo de controle da inflação torna o crédito mais caro, o que significa menos investimentos, empregos e consumo. É um tipo de luxo inaceitável num país combalido pelo drama de mais de 600 mil mortos pelo coronavírus, uma população de 31,1 milhões, entre desempregados e subocupados, e mais de 581 mil empregadores que fecharam seus negócios nos últimos dois anos, segundo o IBGE.




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