Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
Norma Couri para O Valor escreve matéria exclusiva. Ao ver o coronel Carlos Brilhante Ustra (1932-2015) condecorado e ouvir ecos de que nunca houve ditadura no Brasil, Jan Rocha decidiu buscar centenas de despachos enviados para a BBC em Londres. Renderam 467 páginas sobre o momento dramático da época: "Nossa correspondente informa" (Alameda, 508 págs., R$ 86) é a cobertura gravada pela rádio e TV inglesa em fitas cassetes entre 1973 e 1985.
Ao enviá-las, evitava-se olho no jornalista. Qualquer conivência poderia levar às prisões do Doi-Codi, órgão de repressão do governo. Já na capa o livro reproduz uma matéria protestando contra a Polícia Federal, que exigia dos jornalistas a identificação de fontes...
"Este livro é a prova do absurdo que é negar o que vivemos na pele", diz Rocha ao Valor, é a minha indignação pelo que não se pode negar, material explosivo, notícias proibidas na imprensa voltavam ao Brasil feito bumerangue, pelas ondas de rádios sintonizados na BBC.
O despacho que abre o volume, "Dom Quixote brasileiro desafia militares", é de setembro de 1973, sobre Ulysses Guimarães, então presidente do MDB, único partido da oposição.
Wagner Moura recorda, lado outro, constrangido, das interpretações de capítulos da história do Brasil que aprendeu na escola, nos anos 1980. "Na minha infância, li que os indígenas eram preguiçosos, forçando os portugueses a importarem africanos para o trabalho na cana-de-açúcar", conta o ator e diretor baiano, de 45 anos. "Pela história oficial, outro absurdo foi ouvir que a Revolução de 64 tinha salvado o Brasil do comunismo", diz, referindo-se ao golpe de Estado que instaurou a ditadura.
O fato de Carlos Marighella (1911-1969), um dos símbolos de resistência contra a repressão, ter sido relegado ao esquecimento também o incomodava. Daí o seu interesse em resgatar nas telas a trajetória do "inimigo número um" da ditadura militar (1964-1985). Principalmente após ler o livro "Marighella – o guerrilheiro que incendiou o mundo", de Mário Magalhães, lançado em 2012 pela Companhia das Letras, no qual seu filme é baseado independentemente de o espectador ser a favor ou contra Marighella e a sua luta armada", diz Moura, que escalou o cantor e ator Seu Jorge para encarnar o fundador da organização Ação Libertadora Nacional.
Vamos ver o filme "Marighella", que foi deliberadamente apagado pela narrativa oficial, como outros personagens de resistência (recebia apoio do filósofo Jean-Paul Sartre e do cineasta Jean-Luc Godard). "Ele fazia parte de um contexto mundial de luta contra as ditaduras."
Moura sabia desde o início que a cinebiografia de um revolucionário teria dificuldades para se viabilizar. Seu orçamento inicial foi de R$ 10 milhões. "Nenhuma empresa quis se associar ao projeto", diz Moura. "A situação ficou ainda pior com a onda de conservadorismo que ganhou força no Brasil".
O que Moura não esperava era o impasse que enfrentaria com "Marighella" pronto – as filmagens foram em 2017, com recursos da Globo Filmes e do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). O longa-metragem deveria ter sido lançado em 2019, depois da sua première mundial no Festival de Berlim naquele ano, mas estreia no Brasil agora na data do 52º aniversário da morte do guerrilheiro, assassinado durante uma emboscada em São Paulo.
Bolsonaro é fã declarado de Brilhante Ustra, o torturador. Para Moura, é impossível não colocar a saga enfrentada pela cinebiografia no "contexto do ambiente político no Brasil". "Quando soube que eu faria ‘Marighella’, Bolsonaro gravou um vídeo falando mal de mim e de Marighella também. Revolucionário é mesmo uma questão para as pessoas que consideram a ditadura uma coisa boa e veem como herói brasileiro o coronel Brilhante Ustra, o cara que torturou Dilma."
Um filme sobre Marighella é um acinte para eles, afirma o cineasta. "O fenômeno Bolsonaro está enraizado no que há de pior na história do Brasil. Ele não é um alienígena que pousou no país. É um personagem conectado com nosso histórico escravagista, racista, autoritário e violento", diz Wagner Moura. Procurado pela reportagem, para comentar as declarações do cineasta, o Planalto não respondeu. Está ocupado.
Ora veja! Ao invés de investimentos tem-se distribuição de dinheiro público para a população carente. No governo Bolsonaro 1 em cada 5 brasileiros estão em estado de pobreza absoluta!
Ao invés de resolver o problema, este governo o agravou. É mais do mesmo. Em ano eleitoral é tudo que Bolsonaro e sua base parlamentar precisam para comprar os votos dos menos favorecidos, com dinheiro público.
Nada contra medidas que diminuam a fome do povo. O que se critica é o momento em que essa demagogia é feita, justamente em ano eleitoral.
O Brasil é o mesmo de sempre, o Brasil dos coronéis, do voto comprado, da desigualdade social e da demagogia eleitoral. Até quando?