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O momento para dar as costas a Bolsonaro


08/12/2021 04:00

Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ

Cristian Klein é preciso e cirúrgico! “A perda de apoio de Jair Bolsonaro em sua base de simpatizantes tem sido demonstrada em estudos sobre engajamento nas redes sociais e pesquisas de avaliação de governo, tanto no nível dos eleitores quanto no da classe política. Há crescente potencial para um 'estouro da boiada' que pode inviabilizar competitividade para a reeleição. A rápida deterioração da economia aliada à crise de personalidade pela vinculação explícita ao Centrão seriam erros insustentáveis até para empedernidos bolsonaristas.” 

A terceira via busca encontrar espaço antes que Lula avance a ponto de ganhar a disputa no primeiro turno, como começam a indicar alguns institutos. Há chão pela frente, mas em nenhum horizonte a vida de Bolsonaro parece fácil. 

Parte de seu eleitorado em 2018 debandou para a oposição, enquanto outra já não o defende com tanta força. “Nota-se, nas últimas semanas, a curiosa espiral de silêncio em se tratando de corrente política ruidosa, cheia de fanatismo. A energia envolvida na mobilização dos atos antidemocráticos de 7 de setembro se dissipou.”  

“Com o desfecho sem golpe e sem voto impresso, Bolsonaro ficou desprovido de cartadas, exceto as tradicionais do presidencialismo de coalizão, como a distribuição de cargos e de emendas parlamentares. Voltou ao ninho do Centrão, onde era um mero integrante do baixo clero, para decepção dos apoiadores que pregavam uma revolução. O pragmatismo solapa o bolsonarismo, com ideologia histérica, violenta, anticientífica, não iluminista.” 

O casamento com o PL e as demais legendas do bloco fisiológico, como PP e Republicanos, serve menos ao interesse de Bolsonaro – que poderia ir para qualquer sigla. Esses partidos, governistas por natureza, extraem o que podem de um Executivo que sabem enfraquecido, incapaz de apresentar realizações em três anos de governo. 

Sem vocação para gestão, Bolsonaro apostou no discurso da destruição e empurrou militantes para uma campanha permanente contra as instituições. O STF virou vilão. Quanta ignorância, santo Deus! Não sabem que o STF é passivo. Só age se acionado! 

Além do revés em pesquisas, a expectativa de desidratação na base mostra a dificuldade de atrair apoios de governadores, prefeitos e parlamentares. 

Aliados em Brasília declaram que a adesão a Bolsonaro “não viajará do Congresso para os palanques de seus redutos eleitorais”. O pagamento do governo em verbas e cargos encomenda apenas a entrega de votos no plenário. O pacote não inclui o preço de fazer campanha para um presidente cuja rejeição bate nos 69%, segundo o último levantamento Genial/Quaest. 

A debandada, informa o prefeito de um grande município, filiado a uma sigla do Centrão, “não pode ser agora, para que não haja retaliação do governo federal”. Mas já está contratada. "Não quero ficar mal com o Bolsonaro antes do tempo. O tempo para ficar mal com ele é ali na beirada da eleição. Porque não tem condição de votar em Bolsonaro", afirma o político, para quem "o Brasil não aguenta mais sofrer". 

“É uma loucura muito grande o que a gente está vivendo. Tenho vergonha do que aconteceu na reunião do clima (COP-26) e no G-20. Foi patético: Não sou PT, mas Lula dava show, Obama dizia: 'Esse é o cara'. Bolsonaro é tudo de ruim. O Brasil entrou numa fase horrorosa, com inflação, economia que não vai pra frente...", critica o prefeito, que prefere não se identificar. Há gente que vota nele. Mas o patamar dos fanáticos é por volta mesmo dos 20%, por aí. 

O eleitorado fiel a Bolsonaro está estacionado. É insuficiente para incomodar Lula e até mesmo para deter Moro. Seus discursos raivosos nos levam para o desprezo nos EUA e na Europa. 

A última cartada de Bolsonaro é comprometer 2% do PIB com o Centrão e o Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa-Família do Lula, que não terá a mínima dificuldade em mantê-lo. Só mudará o nome, que continuará a ser Bolsa-Família. No final, Bolsonaro imita Lula, apenas isso! 

As chamadas classes produtoras, por outro lado, se queixam da perda de dinamismo da economia. Nenhum país nas Américas tem 220 milhões de habitantes e tantas riquezas, exceto os EUA. Contudo, o nosso PIB é de 22% per capita do PIB americano, atrás da Argentina, que participa da comparação com quase 29% do produto bruto dos EUA... em renda per capita. 

Além do mais, o discurso de Bolsonaro emula o dizer de extrema-direita da burguesia latino-americana e do Leste Europeu, nos afastando das democracias avançadas da Europa Ocidental, Japão, Coreia do Sul e EUA!  

Bolsonaro tisnou de direitismo a boa imagem do Brasil e só parou porque o golpe marcado para 7 de setembro de 2021 gorou, por falta de apoio das forças armadas do país. As polícias militares onde está sua base armada não conseguiram puxar a maioria esmagadora dos comandos para uma arriscada aventura golpista, sem apoio dos EUA... 

Para finalizar, sem opção, aderiu ao populismo irresponsável do Centrão. Terminará seu mandato muito diferente do que era ao iniciá-lo! 


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