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Estado de Minas editorial

Ataque inaceitável à saúde pública

Privar as crianças da imunização é o mesmo que conspirar contra a vida dessa parcela da população


18/12/2021 04:00


Vacinar ou não as crianças de 5 a 11 anos? O tema se tornou uma polêmica entre o Palácio do Planalto e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Hoje, o Brasil, no ranking mundial, ocupa a segunda posição em número de mortes de crianças pela COVID-19 – são quase 4 mil que perderam a batalha contra o novo coronavírus. O dado é alarmante, mas o governo se revela insensível e se opõe à imunização dessa parcela da população. Coloca-se contrário à análise técnica e científica da equipe da Anvisa, que recomendou, na última quinta-feira, a aplicação da dose apropriada para essa faixa etária produzida pela Pfizer.

Na sua tradicional live das quintas-feiras, o presidente Jair Bolsonaro listou alguns efeitos adversos da vacinação no público infantil e deixou a decisão para os pais ou responsáveis pelas crianças. Ameaçou revelar o nome dos técnicos da Anvisa que participaram dos estudos sobre a viabilidade e a eficácia da vacina para crianças. Uma opção pouco responsável, uma vez que, há menos de dois meses, os servidores foram ameaçados de morte pelos negacionistas apoiadores do seu governo. 

Os técnicos da Anvisa, na prática, poderiam ser coagidos ou agredidos pelos extremistas anticiência, com consequências inimagináveis. A direção da Anvisa e a Associação dos Servidores (Univisa) condenaram a atitude de Bolsonaro de querer divulgar nomes envolvidos na aprovação da vacina contra a COVID-19 para crianças. A orientação do órgão regulador não está descolada do entendimento de especialistas ou de instituições que representam pediatras, pneumologistas, infectologistas, que têm lidado com pacientes afetados pela COVID-19. 

Há consenso de que a vacinação é a opção mais acertada para proteger as crianças, assim como ocorreu com os adultos. O número de casos e de mortes – apesar dos quase 620 mil óbitos pelo vírus – passou a cair em todo o país depois do avanço da imunização de adultos e jovens. 

Diante da resistência do Planalto, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, acolheu ação movida pelo PT, e deu prazo de 48 horas para que o governo explique suas razões sobre a vacinação de crianças. 

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defende um debate sobre a imunização dos pequenos, com a participação de especialistas. O comportamento do ministro, para não desagradar ao presidente, é mais uma contradição. A Anvisa é órgão federal que avalia e autoriza os medicamentos e vacinas que podem ser usados no país. Portanto, reúne corpo técnico capacitado e compromissado com a saúde pública. E jamais deixou de submeter temas relevantes a um amplo debate com especialistas. 

Durante esta epidemia, a agência mostrou-se extremamente responsável para a liberação dos imunizantes que foram oferecidos ao país. Privar as crianças da imunização é o mesmo que conspirar contra a vida dessa parcela da população. Significa impedi-las de uma convivência saudável com seus iguais em ambientes coletivos, como a escola, onde estariam expostas à infecção ou como ativos transmissores da doença. 

Europa, Estados Unidos e vários países da América Latina, desde junho último, iniciaram a imunização da população infantil. Esse público não pode ser objeto de disputa política, ideológica ou de qualquer outra motivação. A saúde pública está, ou pelo menos deveria estar, acima de interesses menores, mesquinhos ou de compreensões equivocadas, que colocam o país na contramão do roteiro mundial. Vacina para crianças, sim.


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