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Estado de Minas artigo

Como eu me vejo e você me vê

Nem sempre o que julgamos ser o melhor ou a parte mais importante é o esperado por quem demanda


15/01/2022 04:00



Pedro Signorelli
Fundador da Pragmática Consultoria em Gestão


“Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar.” Essa afirmação é da escritora e jornalista ucraniana Clarice Lispector. A frase traz uma reflexão sobre como nos vemos e os outros nos veem, e que, por vezes, é diferente do que somos de fato. Nesse contexto, nas relações profissionais, por exemplo, nem sempre atendemos às expectativas, o que gera frustrações para ambos os lados, para quem entrega e para aquele que recebe.

Isso, seguramente, em decorrência da nossa percepção individual, dos nossos vieses e excesso de conhecimento ou falta dele. As nossas experiências pessoais e profissionais tendem a indicar o melhor caminho para a realização de um trabalho e indicar uma solução aos clientes. Por outro lado, assim como nós, o nosso parceiro ou cliente também tem o próprio discernimento do que lhe parece ser a melhor, ou seja, mesmo com a certeza da melhor entrega, quem recebe nem sempre compartilha da mesma percepção.

A partir de uma experiência pessoal, comecei a refletir sobre essa questão. Em tempos de pandemia, por conta das restrições sociais, muitos precisaram se adaptar em relação às atividades do cotidiano, como a ida ao cabeleireiro ou ao barbeiro. Como no meu caso, que decidi cortar, pela primeira vez, o cabelo do meu filho. Fiz o meu melhor e pelo resultado tive a certeza de ter realizado um excelente trabalho; contudo, ao finalizar notei nitidamente o descontentamento dele.

No primeiro momento, não compreendi o motivo do aborrecimento, uma vez que o corte ficou muito bom e alinhado. Mesmo orgulhoso do meu feito, questionei o que o teria entristecido. Ele me respondeu que esperava a finalização do corte. Quando vai ao cabeleireiro, o profissional que o atende já sabe que ele é fã de dinossauros, e finalizava o visual modelando o cabelo dele com gel em formato de escamas, assim como os animais jurássicos. Por um lado, eu estava certo de que fiz o meu melhor, mas isso não foi suficiente para atender à expectativa do meu filho. Falhei no detalhe e, nesse caso, todo o esforço anterior tornou-se irrelevante.

Esse relato pode nos trazer reflexões e aprendizados no mundo dos negócios. No campo profissional, atuamos, em nossa maioria, focados na entrega e certos de oferecer o melhor serviço ou solução. Contudo, nem sempre o que julgamos ser o melhor ou a parte mais importante é o esperado por quem demanda. Às vezes, pode ser no detalhe o caminho para nossas maiores conquistas.

Na gestão, isso é sempre muito presente. É preciso entender o que o cliente vislumbra e estar atento às expectativas dos integrantes do time. Quando abre uma empresa, o fundador sabe para onde quer ir, é o seu propósito. A chave para o sucesso é justamente conseguir conectar constantemente essa missão da companhia ao dia a dia das pessoas que passam a integrar o time. Na gestão por OKR – Objectives and Keys Results – essa conexão é permanente. Porque está no O (Objetivo) a narrativa do propósito da companhia.

Pensando nos novos gestores que podem vir a integrar uma equipe, lembrei-me do que diz o professor e palestrante Ram Charan, certamente um dos maiores gurus de liderança na atualidade: “Amplie sua visão, não apenas lendo livros, mas olhando sob a ótica dos outros”. O corte de cabelo era perfeito, mas não correspondia à expectativa do meu cliente.


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