José Ricardo Amaro
Diretor de Recursos Humanos da Ticket
A rotina de home office gerou sobrecarga para grande parte dos profissionais, principalmente sobre os que tiveram que se dividir entre as atividades do trabalho e os cuidados com a família. A dificuldade em estabelecer um limite de horário para o início e o término do expediente também contribuiu para o excesso de tarefas e a inevitável fusão entre vida pessoal e profissional.
Para amenizar a pressão que surgiu naturalmente durante o período de trabalho remoto, muitas áreas de recursos humanos das empresas se dedicaram a criar ações, ou ampliar medidas já existentes de descompressão, apoio psicológico e outros tipos de suporte demandados pelos colaboradores. Uma vez distantes e separados, as necessidades individuais dos funcionários evidenciaram que cada um tem uma realidade diferente e que precisam ser vistos como indivíduos inteiros, que são profissionais, mas que também têm uma vida pessoal.
Mas as áreas e profissionais de RH estavam preparados para uma mudança tão imediata? Por mais estruturada que uma companhia pudesse se encontrar no início da pandemia e da necessidade de isolamento social, a realidade imposta à maioria das equipes foi transformada repentina e drasticamente. A gestão de times inteiros a distância, em um cenário normal, demandaria semanas, ou até mesmo meses, de adaptação, mas diante de uma pandemia precisou ser implementada em um piscar de olhos. As empresas que já tinham processos bem-estruturados e programas de saúde física e mental, certamente, saíram na frente.
Na Ticket, por exemplo, já tínhamos o canal Conte Comigo, que oferece apoio psicológico, social, jurídico e financeiro, com o suporte de profissionais qualificados, para resolver problemas do dia a dia e expor problemas pessoais de forma sigilosa; além da plataforma Viva Melhor, que cuida da saúde dos colaboradores por meio de uma equipe multidisciplinar de saúde (médico da família, nutricionista, educador físico e fisioterapeuta).
A capacitação dos profissionais de RH para atender às novas necessidades do público interno (o que inclui o apoio aos gestores, que também se viram em meio a um grande desafio) nunca foi tão importante – e perdurará. As transformações causadas pelo atual cenário vieram para ficar e se uniram (e intensificaram) às adversidades que já existiam, principalmente as relacionadas a transtornos psicológicos e de bem-estar. No Brasil, 11,5 milhões de pessoas sofrem com depressão e, até 2030, essa será a doença mais comum no país, de acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS).
É o caso da síndrome de burnout, também conhecida como esgotamento profissional, um distúrbio psíquico de caráter depressivo, com sintomas parecidos com os do estresse, da ansiedade e da síndrome do pânico. A síndrome foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, em uma lista que entrará em vigor em 2022 e vem crescendo como um problema a ser enfrentado pelas empresas. De acordo com uma pesquisa realizada pela Ticket com trabalhadores brasileiros, 24,5% deles revelaram um aumento na preocupação com a própria saúde em 2021 e notaram que essa apreensão impactou, inclusive, sua saúde mental.
De acordo com especialistas, é extremamente necessário que a saúde mental dos trabalhadores seja um dos itens de maior atenção por parte das empresas, incluindo o treinamento dos líderes e a criação de novas ações para levar apoio emocional à equipe. Treinar e capacitar os profissionais de recursos humanos para que possam, com a ajuda de profissionais da área da saúde, acompanhar de perto o bem-estar de cada funcionário e criar mecanismos para prevenir e reverter problemas relacionados à saúde mental é fundamental para estabelecer um ambiente adequado ao desenvolvimento profissional e pessoal dos colaboradores.