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Estado de Minas artigo

A origem dos povos ciganos

O nomadismo de alguns grupos é ainda hoje uma violência imposta pelo Estado e pela sociedade


31/01/2022 04:00

Maria Madalena Nunes
Pedagoga, mestre e doutoranda em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT

Que povo é esse? Esta é quase sempre a primeira pergunta que se faz quando se trata de povos ciganos, sua origem, suas raízes, seu lugar de referência no mundo. E há várias controvérsias ainda hoje a respeito do assunto.

Pesquisas que remontam mais de 100 anos dão conta de que os ciganos vieram do Punjab, Índia, e que teriam sido desertores do exército quando se exigiu deles combaterem contra o avanço muçulmano. Passado o período de tensão, eles não retornaram à Índia e seguiram vida nômade, chegando à Europa no século XIV. Desse ponto em diante, dividiram-se em grupos, dando origem às etnias.

Assim, roms passaram a circular entre o Leste Europeu. Calons foram para a Espanha e, depois Portugal, sendo expulsos de lá para o Brasil na época colonial. Os sintis transitaram entre Itália, Alemanha e França.

Há também uma quarta etnia, a dos romanichéis, ciganos que se fixaram em lugares de língua inglesa e atualmente são mais concentrados na Inglaterra e Estados Unidos, inclusive ficaram conhecidos do grande público por aparecerem em séries na TV a cabo americana.

Embora haja muito a ser combatido ainda em termos de ciganofobia e anticiganismo no mundo, no Brasil acontece um fenômeno interessante. Em nenhum outro lugar há tantas pessoas da sociedade não cigana curiosas por saber sobre os modos de vida dessas culturas e mais, o que têm de fazer para se tornarem ciganos, pois desconhecem que se trata de etnias e não de opções de estilo de vida.

Muitos desejam participar de um ritual, cerimônia, curso ou qualquer outra panaceia para virem a se tornar ciganos, pois desejam viver como os falsos estereótipos apregoados de liberdade, alegria, desapego, esoterismo etc. Desconhecem totalmente a realidade de lutas por reconhecimento de direitos, pelas quais passam as etnias ciganas e suas dificuldades diárias.

Desconhecem que o nomadismo de alguns grupos, é ainda hoje uma violência imposta pelo Estado e pela sociedade, que não reconhecem o direito à moradia, saneamento, saúde, escolarização, regularização fundiária para esses grupos, não lhes dando outra opção senão andar de um lugar a outro, em busca da sobrevivência diária.

Desconhecem os valores das culturas ciganas, seus costumes, que variam de grupo para grupo. Enxergam muito superficialmente uma cultura milenar que absorveu todo tipo de diferenças por onde circulou ao longo dos séculos. Confundem a dança cigana com a dança árabe, imaginam que todo cigano fala espanhol e que toda cigana é sedutora e se chama Esmeralda.

Por outro lado, também imaginam que ciganos são ladrões, vagabundos, sujos, roubam crianças, praticam a quiromancia como forma de enganar e tirar vantagem, tem poderes extraordinários, vivem tocando violinos e dançando em volta de fogueiras.

Desconhecem como é dura a realidade cotidiana de grupos inteiros condenados ao analfabetismo e à miséria, à fome, à violência policial e ao descaso do Estado.

Sobre as culturas ciganas há muito que ser dito ainda. Nós, sociedade, ainda desconhecemos completamente tudo sobre esse assunto e nisso, somos cúmplices do abandono, da falta de políticas públicas, do não reconhecimento de direitos de um povo que faz parte da formação da nação há quase 500 anos.


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