Henrique Lima Couto
Presidente do Departamento de Imagem da Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM) e doutor em saúde da mulher
Hoje, 5 de fevereiro, é o Dia Nacional da Mamografia, que tem por objetivo chamar a atenção para a importância do exame na detecção e prevenção de problemas relacionados à saúde das mamas, principalmente o câncer de mama. A data é pouco conhecida para a grande maioria das pessoas, mas é um momento oportuno para falarmos da importância da realização desse exame preventivo.
Nunca o tema saúde foi tão abordado e despertou tanto interesse público como nos últimos dois anos. Mas, por causa da pandemia, pacientes deixaram de ir a consultas e exames de rotina e, temendo a contaminação pela COVID-19, diagnósticos foram adiados.
De acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a incidência do câncer de mama foi a que mais aumentou em 2020 (11,7%), segundo dados divulgados pelo Observatório Global do Câncer (GCO, sigla em inglês). Muitas mulheres podem estar com a doença e não sabem. A Revista de Saúde Pública, da USP, divulgou recentemente que, só no Brasil, 4 mil casos de câncer de mama podem ter ficado sem diagnóstico, o que aumenta o risco de mortalidade para essas mulheres, que tendem a descobrir a doença em fase avançada.
Sabemos que o diagnóstico precoce é uma das ferramentas mais importantes no tratamento e prevenção ao câncer de mama, que tem dois pilares fundamentais: prevenção primária e secundária. A primeira passa pelos cuidados básicos com a alimentação saudável, prática de atividades físicas regulares, saúde mental e espiritual em dia. Cuidar do corpo e da mente pela adoção de hábitos de vida saudáveis é um fator primordial para a prevenção de diversos problemas de saúde. A prevenção secundária é a realização da mamografia, que pode detectar o surgimento de um tumor precocemente, proporcionando chances de cura de 95%.
O diagnóstico de qualquer doença grave assusta, mas nos leva também a importantes reflexões. Vivemos a vida intensamente e esquecemos que um dia vamos partir. Quando a pessoa recebe o diagnóstico de uma doença que coloca sua vida em risco, é natural que ela sinta angústia e medo. Não conseguimos mensurar, mas observamos que o fator psicológico influencia no tratamento e na possibilidade de cura. O acolhimento médico e dos familiares também está diretamente ligado à condução da paciente com o diagnóstico e tratamento do câncer. É preciso entender que tudo o que acontece na nossa vida não é um “por quê”, mas um “para quê”. Assim, é possível lidar com resiliência durante as intempéries da vida.
A mamografia deve ser incorporada aos cuidados da saúde de toda mulher acima dos 40 anos, como recomenda a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Mas, infelizmente, o Brasil não tem um sistema de rastreamento organizado do exame. Em países desenvolvidos, as mulheres são convocadas pelo sistema de saúde para realizar o exame, são lembradas. Com isso, já conquistaram a redução da mortalidade por câncer de mama.
Sabemos que os problemas da saúde no Brasil passam pelo poder público, pelos planos de saúde, mas são também uma questão cultural. Precisamos valorizar e cobrar para que haja melhora e celeridade nos processos que dizem respeito às questões que envolvem a saúde em nosso país.
Por se tratar de uma doença silenciosa, o diagnóstico precoce, feito pela mamografia regular, salva vidas. Portanto, é preciso orientação médica de acordo com cada caso na hora de escolher entre priorizar ou adiar exames e consultas médicas. Cuidar da saúde é algo que só podemos fazer no presente, não é recomendado adiar e tampouco fechar os olhos para o nosso bem mais precioso.