Carolina Alcoforado
COO da Melhoramentos
Os green bonds, também conhecidos como títulos verdes, são papéis de dívida emitidos exclusivamente para financiar projetos que geram impacto ambiental. Eles são a comprovação de que a empresa está, de fato, investindo em ações que geram benefícios para o meio ambiente.
O processo de emissão de green bonds é rigoroso e bastante sério. A empresa precisa definir um projeto para investir e comprovar a finalidade sustentável e seus impactos. Os projetos ligados à eficiência energética e tecnologia têm apresentado maior poder de atração de investimentos.
As empresas estão cada vez mais apostando nesse segmento. Mapear essas oportunidades pode ser estratégico para atrair novos investimentos que visam às questões ambientais em diversas etapas de seus processos, como, por exemplo, gestão de resíduos, uso sustentável da terra, transporte limpo, conservação da biodiversidade, adaptação às alterações climáticas, reúso de água, entre outros, capazes de trazer benefícios para a empresa e para as comunidades onde atua. Há um leque de oportunidades em investimentos que podem voltar para a própria empresa por meio de projetos que vão intensificar as ações ESG.
Definido o projeto, o próximo passo é buscar a ‘second opinion’, uma importante etapa que consiste na contratação de uma instituição reconhecida para revisar e atestar a viabilidade do projeto. Após esse aval, o projeto está apto para aprovação dos investidores. Assim que aprovado, os títulos verdes já podem ser emitidos. Os investidores podem comprá-los ou negociá-los no mercado financeiro.
O setor de papel e celulose apresenta uma vantagem sobre os demais para emissão de green bonds, já que conta com estoque de CO2, proveniente de suas reservas florestais que compensam a emissão. Para isso, é fundamental que seja realizado um plano de manejo adequado, certificado e que não gere impactos negativos para a biodiversidade, nascentes e comunidade local.
De acordo com o último estudo da Indústria Brasileira das Árvores (Ibá), associação responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas, o Brasil já atingiu a marca diária de 1 milhão de novas mudas cultivadas para fins industriais. O setor de celulose no país prevê investimentos de R$ 35,5 bi até 2023 em florestas, novas fábricas, expansões, tecnologias e ciências. Esses dados colocam o Brasil em posição de destaque, já que conta com modelos sustentáveis de manejo florestal, além dos benefícios do clima, que auxilia na agilidade e desenvolvimento das florestas.
Segundo a Climate Bonds Initiative, os green bonds podem injetar R$ 700 bilhões na agricultura até 2030, além de auxiliar na adoção das práticas ESG. E um outro estudo, da Oxford (2015), apontou que boas práticas de ESG resultam em melhor desempenho operacional, o que confirma a relação positiva entre sustentabilidade e resultados financeiros.
As questões climáticas não podem esperar. Diminuir as emissões de gases de efeito estufa e migrar para uma economia de baixo carbono é uma das principais urgências da agenda global.
Só no Brasil, a emissão de green bonds totalizou US$ 4,25 bi em 2021, registrando aumento de 41% em relação a 2020. Isso significa também aumento em investimentos destinados a projetos e ações que têm por finalidade gerar impactos positivos no meio ambiente e, dessa forma, minimizar os efeitos que prejudicam e influenciam as mudanças de clima.
Mais do que buscar empréstimos mais baratos daqueles oferecidos pelas instituições financeiras do mercado, os green bonds dão peso e corroboram com as reais intenções das empresas que se apresentam como ESG.
O meio ambiente é nosso negócio. Preservá-lo e desenvolvê-lo é a melhor e mais sustentável forma de viabilizar nossa existência. As empresas que ainda não estão investindo e olhando para o meio ambiente como estratégia de negócio, certamente não estão olhando para o futuro. Estão vendendo gato por lebre (greenwashing) e estão mais preocupadas em falar que são ESG ao invés de serem ESG na prática.