Guilherme Henrique da Silva
Jornalista
Comportamentos se repetem certamente já enraizados no cotidiano do povo brasileiro. A princípio, furar a fila, guardar o lugar para outro, fazer gato na rede elétrica são comportamentos característicos do famoso “jeitinho brasileiro”. Todavia, não há uma descrição definitiva para tal comportamento, mas no livro “Carnavais, malandros e heróis”, por exemplo, de Roberto da Matta, identificamos o fenômeno como “a total desconfiança nas regras e decretos universalizantes”. Seriam, portanto, atos imorais? Difícil afirmar; entretanto, entre várias identificações, o brasileiro é também conhecido por agir rapidamente atribuindo soluções a situações adversas.
Talvez o famoso jeitinho brasileiro tenha se tornado, de fato, cultura nacional, porque ainda que inconscientemente e, de modo personalizado, grande parte das pessoas age de tal modo. Obviamente, o jeitinho do qual falamos se refere ao modo como a maioria utiliza mecanismos para alcançar seus objetivos. Em suma, é uma forma “especial” em que se procura resolver os problemas, seja particulares ou sociais. Muitas vezes, independentemente das leis judiciais, porque para o brasileiro o que não lhe falta é a criatividade.
Nesse sentido, a malandragem é por vezes relacionada ao “nosso jeitinho de ser”. Esse “jeito” pode ter “aparência” negativa, diferente do comportamento cordial e gentil. No entanto, o “pobre brasileiro” busca achar a luz no fim do túnel, na tentativa de amenizar as situações difíceis, atitude que solucione os problemas e traga sobrevivência às situações opostas. Acima de tudo, o fato é que o brasileiro é muito hospitaleiro e festeiro. Provavelmente, sua fama não esteja atrelada à educação ou polidez comparada a outros povos. Todavia, a grande parte age com o coração, que do latim remete à palavra “cordis”.
Contudo, de que modo este tipo de comportamento pode ser justificado? Antes de tudo, é importante pensar no histórico, as cidades cresceram rapidamente. De tal modo que o homem mais que depressa entendeu a necessidade de se tornar individualista. Como resultado, o cenário atual brasileiro é de dificuldade, o país passa por um período de crise política, econômica e social. Desse modo, o jeitinho brasileiro pode ser ainda mais identificado, tanto na observação do comportamento dos líderes, quanto na população geral.
Enfim, os malandros deste Brasil estão na atividade, como diz a gíria popular, no “corre”. Querem se dar bem com pouco esforço, interesseiros e oportunistas, mas muitas vezes aceitos. Em outras palavras, estão por aí na busca por solucionar as situações adversas, independentemente das consequências. Decerto, a formação cultural do Brasil é ancorada na construção dessa diversidade “louca”, formada por um processo histórico, no qual sempre foi necessário equilíbrio entre cordialidade e malandragem. Mas, bem sabemos que o jeitinho brasileiro é comumente associado apenas à malandragem. Burlar as regras, realizar gato na rede elétrica, sonegar declaração do Imposto de Renda, entre outros, por outro lado pode se constituir de valor, arte e criatividade para solucionar os problemas.