Jornal Estado de Minas

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Como será 2022/23?


Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
 
 
 
 No cenário internacional, o tema mais relevante para as economias emergentes é a natureza do processo inflacionário americano. Dado que há mais de 10 meses o mercado de trabalho está a pleno emprego (isto é, na mesma posição que estava em fevereiro de 2020). O banco central dos EUA, conhecido por Fed, terá que suavemente subir a taxa nominal para a neutra, hoje calculada em 2,5% ao ano. Mas há a possibilidade de a inflação ganhar inércia e sua alta atual não ser totalmente revertida. Nesse caso, o Fed terá que subir mais os juros para a inflação voltar para a meta. Juros altos nos EUA sempre prejudicam investimentos em países emergentes.  

O segundo tema na economia internacional a ser acompanhado é a reversão dos diversos choques. Tudo sugere que os portos, fretes e movimentos de contêineres melhorem ao longo do primeiro semestre. Carvão e gás, principalmente na Eurásia, devem se normalizar ao longo do ano. O suprimento de chips não automotivos deve se normalizar ao longo do ano e o dos automotivos em 2023. A normalização do petróleo deve ocorrer mais à frente. O suprimento europeu de gás está garantido pelos gasodutos russos que percorrem a Europa inteira chegando até a Itália, tão logo se resolva o conflito na Ucrânia.  

O terceiro tema na agenda internacional é a safra mundial de grãos. Desde que chineses abateram 40% do rebanho suíno por conta da gripe suína africana em 2019 e o reconstituíram com modernas granjas, a demanda global por soja e milho subiu aproximadamente 5%. Estoques em baixa bateram nos preços. Ano passado, a safra não foi boa. Preços ainda elevados. Será que haverá normalização mais intensa do preço da ração animal? É importante para definir como andará a inflação para toda a cadeia de proteína animal: carnes, laticínios e ovos, até porque a Rússia fornece fertilizantes para metade do mundo.  
 
 
 
 
Vale ouro sabermos como Lula governará a partir de 2023 ganhas as eleições de outubro, como sugerido pelas pesquisas. O mercado enxerga a economia andando de lado ou recuando. Haverá crescimento na casa de 1-1,5%. Difícil imaginar economia parada ou recuando em ano eleitoral com estados gozando de confortáveis arrecadações em 2022 (o crescimento da receita real de ICMS foi espetacular).  

Portanto, 2023 não será recessivo. A deterioração fiscal na União em consequência de medidas populistas de Bolsonaro para tentar se reeleger é real. Estamos em uma situação que guarda semelhança com 2014, quando a presidente Dilma Rousseff promoveu a deterioração das contas públicas para garantir a reeleição. Ganhou, mas “não levou”. Perdeu a governabilidade e foi impedida. Estelionato eleitoral não é da natureza da democracia. O ciclo político na despesa pública é cruel. Se errar na dose ganha, não governa!  

Com Bolsonaro, o setor público quis economizar, não criou empregos. O setor privado então se retraiu. Contudo, um Lula vitorioso vai encontrar a terra arrasada por Bolsonaro. Um Brasil difícil de governar. Lula não irá encontrar nada parecido com 2010, seu último ano de governo, quando o Brasil cresceu 7,4%, um recorde histórico, desde os anos de JK, que logrou industrializar o Brasil (energia e transportes, indústrias de base e automobilística). 





A essa altura, não parece existir nenhuma dúvida quanto ao favoritismo de Lula, embora a ordem do “gabinete do ódio” seja repetir sem parar por tudo quanto é lugar que Lula é ladrão. O “povão”, como dizem por aí, faz ouvidos moucos, a ponto de certos institutos apostarem na vitória de Lula já no primeiro turno, desapontando a relativamente pequena classe média brasileira de alta renda, bastião político de Bolsonaro.  

Parte da classe média mais modesta com Bolsonaro regrediu, perdendo renda. É que o governo não investiu em obras relevantes. No andar de baixo da sociedade brasileira Bolsonaro não fincou raízes. 

O ano de 2022, ano eleitoral, não estamos indo bem (mas tampouco estamos diante do abismo). Justamente essa tem sido a sina do Brasil, a de ser um país de renda média para sempre, com enormes desigualdades sociais irresolvidas século 21 adentro. O Cristo Redentor de um lado, a favela da Rocinha do outro lado, são veros símbolos nacionais. 

Afora o PT, não existem partidos políticos definidos no Brasil. Os poderes legislativos da União, estados e municípios são acampamentos de políticos com suas bases políticas, regionais e municipais, quase sempre discrepantes de suas posturas no campo mais amplo da nação, no Congresso, o que dificulta muito a vida política nacional e sempre torna o Executivo rendido às suas exigências por obras, nem sempre funcionais. Agora se fala em federações partidárias duradouras (para a eleição e pós-eleição). Ajuda, mas não resolve. Estamos ainda longe de uma reforma política, realmente séria. O PT e a esquerda têm que fazê-la, sob pena de estagnação.