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editorial

Os estragos da inflação

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A inflação, que indicava alívio a partir de abril pelas projeções do Banco Central, voltou a mostrar que está forte e que dará muita dor de cabeça nos próximos meses. Mesmo sem os efeitos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que provocou um estrago nas cotações das commodities, em especial as do petróleo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro atingiu 1,01%, o maior para o mês desde 2015. No acumulado de 12 meses, a carestia cravou alta de 10,54%. Todos os grupos de preços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentaram elevação. A disseminação dos reajustes é tamanha que o índice de difusão chegou a 75%. Isso quer dizer que quase oito em cada 10 produtos e serviços monitorados pelo IBGE tiveram aumento.





As perspectivas são as piores possíveis diante do mega-aumento dos preços dos combustíveis anunciado na quinta-feira pela Petrobras: 18,7% na gasolina, 24,9% no diesel e 16% no gás de cozinha. As projeções apontam para um impacto mínimo de 0,6 ponto percentual na inflação deste ano. Quando acrescidos os efeitos em cascata, já que os combustíveis afetam todas as cadeias produtivas, o peso final poderá chegar a 1,5 ponto. Assim, o IPCA deverá encerrar o ano entre 7% e 8%. Até então, as estimativas mais pessimistas eram de um custo de vida de 6%. Os principais prejudicados, como sempre, serão os mais pobres, que não têm como se defender da onda de reajustes.

Os economistas alertam que o impacto dos conflitos armados no Leste Europeu na economia brasileira só está começando. Chegou, primeiro, aos postos de combustíveis, mas passará em breve pelas fábricas, pelas padarias, pelos supermercados. Não haverá escapatória. A disparada das cotações do petróleo elevou os custos de matérias-primas da indústria química, a base de todo o sistema produtivo. Junto subiram os preços de grãos como trigo, soja e milho e das carnes. Quer dizer: os alimentos ficarão mais caros. Não será surpresa, portanto, se o custo de vida, ao final de 2022, encostar nos 10%. Neste momento, a tendência é de piora, não de melhora.

Isso vale, inclusive, para a atividade econômica. Os primeiros indicadores do ano – indústria, serviços e varejo – apontaram fragilidade, mantendo as projeções médias de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,5%. Como o Banco Central será obrigado a pesar ainda mais a mão na taxa básica de juros (Selic) – na próxima semana, deverá subir de 10,75% para 11,75% ao ano –, o resultado tenderá a ser ainda pior, com reflexos no mercado de trabalho. O país estará diante de uma combinação explosiva: inflação resistente, juros em alta e desemprego. Tudo em um ano de eleições.





Tomara haja sensibilidade por parte das autoridades para a tomada de decisões adequadas ante o quadro dramático que se desenha. Ainda que não resolvam todos os problemas, os projetos de lei aprovados pelo Congresso que mudam o sistema de tributação sobre combustíveis e criam uma conta de compensações para segurar as correções de preços feitas pela Petrobras são considerados um alento. Também será bem-vindo, se necessário, um programa de subsídios para os derivados de petróleo caso o barril do óleo, que custava US$ 80 antes do estouro da guerra e, agora, é negociado acima de US$ 110, continue apontando para cima. Com serenidade, será possível minimizar a tragédia da inflação. É o que nos resta.