Jornal Estado de Minas

Arte e Aldir Blanc

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Ricardo dos Reis
Especialista em educação musical pela UFMG 

Sempre que me sento ao sol pela manhã, vêm-me à mente os seguintes versos de um dos heterônimos de Fernando Pessoa: “Quem está ao sol/E fecha os olhos/Começa a não saber mais o que é o sol/E a pensar muitas coisas cheias de calor/Mas abre os olhos/E vê o sol/E já não pode mais pensar em nada/Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos de todos os filósofos e de todos os poetas do mundo inteiro”. Experimente, caro leitor, e sentirá o quanto de verdade há nisso aí. Para a maioria significativa da população mundial, em tempos atuais por que passamos (pandemia, guerra, intolerância, truculência, nós contra eles…), a arte foi, tem sido e será, sempre, a porta por onde entra o ar puro que alivia e faz eriçar os pelos.




 
Também pensei, por muito tempo (Oh, doce e prazerosa ilusão), que a arte pudesse salvar o mundo… Custou-me, pois, concluir: não salva, é verdade. Mas atenua as dores. Nestes tempos difíceis, poucos, pouquíssimos seres humanos, os não dotados de sensibilidade, os que ainda, por alguma razão, não se permitem desenvolvê-la (a sensibilidade), não enveredaram pela arte, nela buscando uma possível saída para a melancolia ou uma rota de fuga para a tristeza e a dor. 
Melancolia, tristeza e dor, substantivos abstratos inerentes à vida humana, inevitáveis, portanto, mas intensamente aprofundados em tempos de intempérie. Sabe-se que a arte, o fazer artístico, nunca esteve dissociada do homem, que neste ofício sempre buscou a catarse, a purificação da alma, o descanso espiritual. Como dizia Freud: “O que seria da psicanálise sem a arte, os artistas?”. 
 
A evolução tecnológica, por meio das chamadas plataformas digitais (YouTube, Spotify, Deezer, I-Tunes, Instagram), entre milongas mais, mostrou de fato a que veio, facilitando o acesso à arte, dela desfrutando (somente os privilegiados – que haja cada vez mais inclusão), tanto consumidores quanto fazedores de arte. 




 
Ah, os fazedores de arte… Em tempos de guerra, pandemia, são eles, talvez, os artistas, os que mais padecem, essencialmente aqueles que na arte tinham e têm o sustento do dia a dia. Sem mensurar aqui os danos psicológicos e afetivos aos fazedores de arte, para os quais a criatividade nunca fora um “hobby”, mas, sobretudo, vital necessidade. A arte, disse o poeta, tem de existir, precisa existir, já que a vida, por si só, não basta. Atores, atrizes, artistas plásticos, músicos, produtores, enfim, todo o setor cultural foi profundamente alijado de suas atividades. 
 
Recém-aprovada pelo Senado a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, ela prevê repasses anuais de R$ 3 bilhões pela União a estados e municípios, durante cinco anos. Tal qual “nuvens, lá no mata-borrão do céu”, além de restabelecer “a esperança equilibrista”, a aprovação desse projeto de lei seguirá conscientizando “que o show de todo artista tem de continuar”. Dá-    lhes arte! Salve, Aldir Blanc!