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UE, China e EUA no atoleiro

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Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
 
Segundo o jornal Valor, que me orienta, a China é a grande economia com a qual a maioria dos economistas está preocupada e, na semana passada, novos dados reforçaram as preocupações em relação às suas perspectivas. Respondendo por 19% do PIB mundial, a China, quando pega COVID, o resto do mundo não pode ignorar seu sofrimento, especialmente por causa do impacto sobre as cadeias globais de suprimentos e sua demanda por bens e serviços de outros países.





Graves tensões estão aparecendo. Com os lockdowns se espalhando pelo país, navios fazem filas ao largo dos portos chineses e os setores manufatureiro e varejista do país já começaram a se contrair. As vendas no varejo caíram 11% em abril, sobre igual mês do ano passado, enquanto a produção industrial recuou 3%. As vendas de moradias na China também caíram mais no mês passado do que no começo de 2020, com a sua economia entrando em desaceleração, apesar do afrouxamento da política monetária do Banco do Povo da China (o banco central chinês) para encorajar a tomada de empréstimos e os gastos. O desemprego está em alta.

Kevin Xie, economista sênior para a Ásia do Commonwealth Bank of Australia, diz que os dados econômicos da China em abril foram consistentemente desapontadores. Embora as perspectivas dependam basicamente da disseminação da COVID, ele acrescenta que “a queda do nível de emprego e a confiança mais fraca entre as empresas e as famílias vai conter os gastos e será um mau presságio para as perspectivas de crescimento”.

Nos EUA, a outra potência econômica mundial, a economia vem sofrendo com o legado da pandemia e, em particular, com o excessivo estímulo fiscal que, sem dúvida, aqueceu demais a economia e gerou inflação alta, mesmo com aumentos modestos nos preços da energia. Ao lado de um mercado de trabalho muito apertado, o Fed foi forçado a reconhecer o erro e passou para uma fase de aperto da política monetária para desacelerar o crescimento e reduzir a inflação.





Jerome Powell, o presidente do Fed, foi bem claro ao afirmar que o banco central continuará subindo as taxas de juros até ver evidências “claras e convincentes” de que a inflação está retornando para a meta de 2%. Ele não está preocupado com a possibilidade do desemprego aumentar “alguns pontos” a partir do atual nível de 3,6%.

Powell acrescentou que almeja um pouso suave para a economia, mas muitos nos mercados financeiros acreditam que poderá ser difícil conseguir isso. Krishna Guha, vice-presidente da Evercore ISI, alerta que há um risco muito maior que o normal de que a dura postura contra a inflação das autoridades se torne uma profecia autorrealizável e provoque desaceleração.

Do outro lado do Atlântico, a Europa enfrenta um problema igualmente difícil, mas diferente. Reino Unido à parte, a inflação decorre quase que universalmente dos maiores preços da energia, e não do superaquecimento da economia, ligado diretamente à invasão da Ucrânia pela Rússia, está última a segunda maior produtora de gás e derivados.





Infelizmente para a União Europeia (UE), entender a causa dos problemas da Europa não diminui suas consequências. Com a inflação a 7,4% em abril, os preços na Zona do Euro estão aumentando mais rapidamente do que a renda de seus cidadãos, com impacto negativo nos padrões de vida que limitará os gastos e a recuperação. As novas previsões da Comissão Europeia, divulgadas na semana passada, apontam uma drástica redução na estimativa de crescimento e elevação na perspectiva de inflação, que implicam a estagnação deste ano.

A Comissão acredita que a economia superará esse período difícil e retomará um ritmo de  crescimento razoável, de cerca de 0,5% por trimestre na metade do ano, mas muitos economistas do setor privado acreditam que o golpe na renda das famílias terá efeitos mais duradouros. Christian Schulz, economista do Citigroup, diz que as previsões oficiais parecem otimistas demais e que é mais provável que “praticamente não haja crescimento no resto do ano”.

Se a dificuldade da Europa está em se ajustar aos preços muito maiores da energia, os países mais pobres têm a tarefa ainda mais difícil de lidar com o aumento acelerado dos preços dos alimentos, que respondem por mais de 30% dos gastos nos países emergentes.





Com os portos do Mar Negro, que a Ucrânia usa para exportar grãos, fechados, os temores de uma crise alimentar no fim deste ano estão crescendo. António Guterres, secretário-geral da ONU, disse na semana passada que o conflito na Ucrânia, somado às pressões existentes sobre os preços dos alimentos, “ameaça levar dezenas de milhões de pessoas à insegurança alimentar, seguida de desnutrição e fome em massa”.

Embora tenha suas próprias crises políticas e econômicas, o Sri Lanka sintetiza as terríveis escolhas enfrentadas por muitos dos países mais pobres do mundo, ao optar pelo primeiro calote em sua dívida externa na semana passada. Foi necessário para usar sua reserva em moeda forte para importar combustíveis, alimentos e medicamentos.