Márcio S. de Santana
Professor da Universidade Estadual de Londrina – Centro de Letras e Ciências Humanas e
Departamento de História
Ano eleitoral. Ceticismo, descrença, angústia, manipulação, acordões e por aí segue a lista de adjetivos nada elogiosos. Essa tem sido a dinâmica em nossa cultura política, salvo as exceções de praxe. Dessa maneira, a cada eleição presidencial, a sensação de descrença toma conta do eleitorado. Um dos elementos explicativos reside na mentalidade política em curso, marcada pela fuga em relação ao tempo presente e à sua complexidade, uma vez que a política e a administração pública cedem espaço ao marketing político.
Direita, esquerda; conservador, progressista. Duas díades passíveis de mobilização para adentrar a discussão da mentalidade política em questão. A política tem recebido um tratamento simplório há um bom tempo. E não deveria, por se tratar de coisa da mais alta relevância para a sociedade, independentemente da posição que o sujeito ocupe na escala social ou no espectro ideológico. Somos, de fato, um animal político, nisso Aristóteles permanece irretocável.
Ser um animal político, no entanto, não significa ser um animal militante, tampouco radical. E é no potencial de radicalismo político que o pleito atual tem atraído tanta atenção e preocupação, dentro e fora do país, notadamente em razão do tecido social esgarçado em consequência da crise econômica em curso, agravada pela pandemia de COVID-19. Sobretudo nas grandes metrópoles, mas não exclusivamente, os bolsões de pobreza crescem exponencialmente.
Os atores envolvidos no jogo político travam intensa batalha pelo domínio de espaços. Cada campo político, naturalmente, busca convencer os brasileiros da efetividade de suas propostas, assim como deslegitimar as ideias dos adversários tanto quanto possível. Manobra elementar e estrutural da atividade política. Nesse momento, sem margem para dúvidas, a questão social é o tema de maior relevância no debate nacional brasileiro e, por isso, a agenda social permanece tema de intensa discussão perante a opinião pública.
O desânimo coletivo reaparece agora, tão forte quanto em qualquer outro momento, revigorado pela baixa qualidade dos candidatos que se apresentam no pleito presidencial. Os candidatos ao Poder Executivo federal deveriam montar os seus programas de governo pautados em análises acerca das necessidades da sociedade brasileira. Sabemos que isso dificilmente ocorrerá. A política está entregue ao fisiologismo e não há qualquer sinal de mudanças em um cenário de curta duração.