Gilson E. Fonseca
Consultor de empresas
Quando a Aids era, praticamente, uma decretação de morte, o jornal Estado de Minas publicou completa matéria com um aidético. Resolvera ele, sem nenhuma restrição, falar da sua doença. Depois de muito esconder-se e entregar-se às angústias e medos, ele concluiu que estava fazendo uma maldade consigo mesmo. Percebera que a melhor maneira de tornar-se forte era justamente expor-se, pois só assim poderia receber ajuda adequada. Compreendeu ainda que tal coragem fortalecendo o espírito iria influir positivamente no combate à doença física, além de arrebanhar outros que se encontravam na mesma situação.
Lamentavelmente, a gente vê pessoas diante de situações muito mais simples, até mesmo corriqueiras, com grande dificuldade de expô-las. É também muito comum acontecer, principalmente com os jovens, que são mais sensíveis às críticas, mostrarem-se medrosos diante da opinião dos outros sobre seus pensamentos e atitudes. Devemos perseguir a liberdade plena, embora se saiba que as regras de convivência e nossas limitações, muitas vezes, a torna inatingível. Entretanto, as liberdades individuais não podem ficar prisioneiras ao ponto de perdermos a espontaneidade. Frequentemente presenciamos pessoas que recorrem ao nítido comportamento de falsa modéstia diante de elogios. Preferem não assumir seus dons ou virtudes diante dos outros, não porque os desconhecem ou não se orgulham deles, mas simplesmente por receio de assumi-los publicamente. Ora, se assumimos com a mesma desenvoltura também as nossas deficiências e falhas, as coisas boas deixam de parecer presunçosas e podemos nos sentir livres para externar o que há de melhor em nós.
Por força da profissão, conheci e convivi com vários executivos e engenheiros especializados em engenharia geotécnica que ao longo de suas vidas se aculturaram e desenvolveram tecnologias, mas ficaram restritos aos seus locais de trabalho, em vez de divulgá-las sem restrição. É uma pena constatar que palestras, cursos e artigos poderiam ser escritos, mas a "modéstia" ou inibição não lhes permitiu. Esse medo da exposição – é ainda pior saber –, até mesmo nas relações familiares, inibe gestos de carinho e afeto, trazendo prejuízos à própria pessoa e às outras de sua convivência, que, de uma outra forma, poderiam ser beneficiadas. Por que “homem não pode chorar” diante de situações de forte emoção? Há vantagem amadurecer, sem transmitir e dividir esse amadurecimento?
Uma grande prova de crescimento humano é exatamente ter coragem de expor-se. Esconder-se dentro dos próprios medos, que, na maioria das vezes, são fantasiosos e irreais, é perder a oportunidade de atingir o equilíbrio emocional. Quando se escreve um artigo qualquer, correm-se riscos de cometer erros, sobretudo gramaticais, desagradar a pessoas pelo seu conteúdo em si e por contrariar ideologias. Mas, quem sabe vale a pena arriscarmos por outro lado, agradar a um número maior de outras pessoas identificadas com nossos pensamentos e tornar nossa forma de expressão livre e confortável, longe do medo da exposição?