“Atrás de um grande homem, há sempre uma mulher.” O velho adágio se tornou peça ultrapassada. Há 90 anos, quando conquistaram o direito de votar, as mulheres seguiram na busca por maior participação no cenário político, historicamente dominado pelo sexo oposto. Votam e podem ser votadas. No pleito de 2 de outubro próximo, somam 9.353 candidatas na corrida pela Presidência da República, governos estaduais e distrital, às cadeiras do Senado (uma por unidade da Federação), das câmaras dos Deputados e Distrital (DF) e das Assembleias Legislativas.
Em Brasília, 311 mulheres, em um total de 885 candidatos, pleiteiam cargos nas esferas distrital e federal. Entre elas, quatro dividem a preferência de 57,9% dos 2,2 milhões de eleitores, segundo pesquisa Correio/Opinião. São elas: a senadora Leila Barros, que concorre ao governo local; a deputada Celina Leão, que pretende trocar a Câmara Federal pelo cargo de vice do governador Ibaneis Rocha; e as ex-ministras Damares Alves e Flávia Arruda, do presidente Bolsonaro, que disputam a cadeira no Senado.
Em Minas Gerais, a realidade é bem parecida com a da capital da República. Embora até o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tenha realizado a campanha Mais Mulheres na Política, a fim de elevar a participação feminina, o resultado ficou aquém do esperado na maioria das unidades da Federação. No segundo maior colégio eleitoral, elas correspondem a 32% dos 2.555 candidatos aos diferentes cargos eletivos.
Há, efetivamente, uma desproporção na representatividade do segmento feminino nos poderes legislativos e executivos. As mulheres são maioria do eleitorado brasileiro – 82,3 milhões, contra 74 milhões de homens. A lei das cotas impôs aos partidos que 30% dos candidatos (incluindo as negras) sejam delas. A regra determina que os recursos dos fundos partidários e eleitorais devem custear as campanhas desse segmento. Embora seja um avanço, não é suficiente para que haja equidade nos espaços de decisão sobre as iniciativas dos executivos e na formulação de políticas públicas para o país. A desejada paridade está longe de ser alcançada.
O mesmo desequilíbrio é reproduzido em todos os outros setores da sociedade, nos quais as mulheres ainda têm seus valores e capacidades depreciados pelos homens. A mudança dessa visão ultrapassada, misógina e mesquinha precisa acontecer concretamente. Não há sentido relegar o universo feminino a planos secundários ou terciários. Exemplos do exterior e de nações com tendência conservadora, como o Reino Unido, que elegeu a terceira primeira-ministra da sua história, bem podem inspirar os detentores dos poderes no Brasil. Que a futura composição do Congresso Nacional e dos legislativos estaduais perceba que discriminação mais divide do que ajuda aos avanços que o país precisa para alcançar uma condição compatível com o século 21.