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O Brasil está hoje diante de um desafio que vai além da escolha do próximo presidente da República e governadores e que implica, independentemente dos eleitos, dar prioridade total para a educação em todos os aspectos, da massificação do ensino básico ao investimento em infraestrutura adequada e na valorização e qualificação do corpo docente. O descaso com a formação dos cidadãos vai custar caro ao país. E os efeitos do impacto negativo da má qualidade na formação educacional já se fazem sentir. 




 
Dados recentes mostram um quadro preocupante e que não pode ser justificado pela pandemia de COVID-19 sob pena de não se observar o que precisa ser corrigido e aprimorado na educação pública brasileira, que sofre com carências na base e a miopia nas diretrizes das autoridades. O Censo Escolar da Educação Básica mostra que o total de matrículas de jovens no ensino médio caiu 5,3%, enquanto o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) revelou, por aplicação de provas, que, em 2021, mais do que dobrou o percentual de alunos do 2º ano do ensino fundamental que não sabem ler e escrever, e 22% dessas crianças não conseguiam fazer operações como soma e subtração.
 
A gravidade do quadro educacional fica ainda mais evidente com o alerta feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) de que é urgente priorizar a educação no Brasil, onde uma pesquisa encomendada ao Ipec (antigo Ibope) mostra que há 2 milhões de crianças e jovens, entre 11 e 19 anos, que deixaram a escola sem terminar a educação básica. Eles somam 11% da população nessa faixa etária. Outro fator que aponta para um quadro crítico é o fato de a qualidade do ensino fundamental e médio ter estagnado na pandemia.
 
Saeb é a prova que avalia o aprendizado em português e matemática de alunos do 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio, e foi aplicada em novembro e dezembro, quando muitas escolas ainda não haviam retornado às aulas presenciais, com maior probabilidade de baixa adesão ao exame. Com isso, pesquisadores dizem que não é possível saber se os alunos que não fizeram a prova são os que não tinham acesso à tecnologia, no caso da educação básica, ou se se ausentaram diante da necessidade de trabalhar, no caso do ensino médio. Essa lacuna pode significar que os dados são piores do que os revelados, uma vez que jovens em vulnerabilidade social podem ter ficado fora do universo avaliado pela Saeb, que serve de base para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).




 
O que se vê hoje, lamentavelmente, é uma geração de jovens de menor poder aquisitivo e que dependem do ensino público tendo formação precária e que pode comprometer a capacidade futura de desenvolver atividades exigidas pelo mercado de trabalho. E isso pode ocorrer em menos de uma década para os jovens do ensino médio e um pouco mais de tempo para os que cursam os anos básicos. “Para reverter o cenário de exclusão e fracasso escolar, nos próximos quatro anos, serão necessárias políticas públicas fortes e consistentes”, pontua o Unicef.
 
O impacto desse atraso educacional já é sentido no mundo produtivo. Um estudo do ManpowerGroup mostrou que a falta de mão de obra qualificada no país chegou à marca de 81%, contra uma média mundial de 75%. “A cada ano, as empresas têm mais dificuldade para preencher vagas, desde as mais simples até algumas funções que exigem preparo e formação”, observou Wilma Dal Col, diretora do ManpowerGroup, na divulgação do estudo, em julho deste ano. Já uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para detectar as prioridades dos empresários em relação ao próximo governo mostra que educação é a prioridade para 34%, enquanto crescimento econômico (20%), redução de impostos (14%) e geração de emprego (12%) ficaram bem atrás.
 
Para reforçar a necessidade urgente de o Brasil priorizar a educação, basta lembrar o exemplo da Coreia do Sul, país que com rigor educacional, investimentos em educação e 100% da população alfabetizada saltou da condição de subdesenvolvido no início dos anos 1990 para uma potência econômica mundial atualmente. Ou ainda lembrar o filósofo e economista escocês, pai da economia moderna, Adam Smith: “Embora, porém, as pessoas comuns não possam, em uma sociedade civilizada, ser tão bem instruídas como as pessoas de alguma posição e fortuna, podem aprender as matérias mais essenciais da educação – ler, escrever e calcular –, em idade tão jovem, que a maior parte, mesmo daqueles que  precisam ser formados para as ocupações mais humildes, têm tempo para aprendê-las antes de empregar-se em tais ocupações”. Ou o Brasil garante escola de qualidade para todas as crianças e jovens agora ou não chegará ao patamar de nação desenvolvida.