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Estado de Minas

Procura-se um "lá fora"!


11/10/2022 04:00

Aleluia Heringer Lisboa
Diretora de educação, relações institucionais e ASG do Colégio Santo Agostinho


Para alguns adultos, rua não é passagem nem escolha, mas uma situação. Nela se fazem morada e trabalho. Para algumas crianças e jovens, é a “comunidade que me acolhe” e “corre o olho”. Para outras, nos grandes centros urbanos, é o lugar perigoso, possível somente para os carros. Há, contudo, outra rua que dela temos somente resquícios.

Se alguma vez na vida você ouviu a expressão “vou te pegar lá fora”, significa que conheceu a instituição Rua. Junto com a família e a escola, servia como a única instância onde os pares e ímpares podiam se encontrar sem a presença dos adultos, pais, mães e professores. Eram os três poderes independentes (Rua, Família, Escola) que geravam as condições ideais para o desabrochar de uma personalidade menos autocentrada.

Seguindo o modelo de organização dos bandos, sempre tinham, sem a necessidade de eleição, um “alfa”, que se impunha pela idade, tamanho, valentia ou covardia. Sem nada escrito, havia o conhecimento tácito das hierarquias, regras e punições. Os mais novos aprendiam com os mais velhos e todos estavam sob algum tipo de pressão, sempre maior que o ambiente protetor da casa ou controlado da escola. A autorregulação do grupo tornava as ações mais consequentes e isso tinha um peso.

De um realismo só, mais para um ritual de passagem, a Rua não era fácil e, por vezes, nem bela.  Algo que daí extrapolasse, aí sim, chegava em casa ou na escola, que pouca ou nenhuma atenção davam ao caso.

Hoje é possível ter a dimensão do quanto a supressão desse espaço impactou na forma de ser escola, família e gente. Meninos e meninas, para crescer e se tornar adultos, continuam tendo as mesmas necessidades de encorajamento, afirmação, reconhecimento, interdições, contrariedades e de pessoas que os situem e os conformem. Hoje, a escola é o único ambiente onde é possível conviver com grupos não selecionados previamente; contudo, quase todas as variáveis são controláveis e monitoradas.

A vida deixou de ser um acontecimento e passou a ser algo previsto e encaixado na agenda e, de preferência, com o registro de imagens. A surpresa, o inesperado têm hora marcada para acontecer. Ao contrário da Rua, de suas sombras, perigos e desafios, o que oferecemos é a assepsia. Nunca se investiu tanto na prevenção de conflitos e, nem por isso, eles diminuíram. O que presenciamos são meninos e meninas com profundas dificuldades de enfrentarem os problemas básicos da vida; afinal, alguém irá resolver por eles.  Atuar nesse contexto é possível e passa pela consciência de que precisamos devolver às crianças e jovens um espaço mínimo para que eles se conheçam. E que nesse espaço reconheçam seus próprios erros, convivam com os contrários, e que busquem soluções para os problemas em que se envolveram.

Das lembranças amargas da Rua construímos uma vida que hoje nos pertence. As histórias deixaram muitas marcas; contudo, o sujeito que as viveu foi preservado e cresceu. Mesmo que não haja mais esse “lá fora”, nos exíguos tempos e espaços que ainda restam para as crianças, poderíamos nos esforçar e devolver a elas esse respiro para que também tenham, elas próprias, suas histórias.




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