Clay Brites
Médico neurologista infantil do Instituto Neurosaber
Os resultados de um estudo recente, realizado na Austrália, revelaram que o TDAH leva a um impacto negativo econômico, em média, de US$ 12,7 bilhões ao ano e US$ 15,6 mil por pessoa ano (per capita). Em dados relacionados ao bem-estar individual, os custos podem chegar a US$ 5,3 bilhões ao ano!! Mais de 80% deste impacto foi em produtividade e 4% em gastos com saúde mental.
A pesquisa foi publicada no Journal of Attention Disorders, um dos periódicos mais influentes na área, tido como exemplar no meio científico. Ela documenta de forma abrangente os aspectos sociais e custos econômicos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Os custos financeiros de uma doença ou de um transtorno podem ser medidos pelo grau de perda de produtividade no trabalho, peso-morto (não trazer qualquer novidade ou ganho à sociedade) e gastos despendidos aos serviços de saúde. Os custos não financeiros se calculam a partir dos anos não aproveitados de estudo, envolvimento com a criminalidade, problemas com a Justiça e perda de oportunidades na vida civil e no mercado de trabalho.
O TDAH atinge 6 % da população infantil e 2 a 3% da adulta. Ele se inicia principalmente na infância, mas se estende por toda a vida em mais de 60% dos casos. Seu quadro clínico e comportamental leva a pessoa a agir como se vivesse num constante descontrole para se organizar e aprender a priorizar e pensar o suficiente nas suas decisões e problemas do cotidiano. Executar uma sequência simples de uma tarefa ou de rotinas do cotidiano pode ser um imenso desafio.
O TDAH é um fator de risco e leva a maiores dificuldades de emprego, nos relacionamentos, alta chance de se envolver com criminalidade e aumento da mortalidade por estar associado ao aumento de acidentes, impulsividade generalizada e associação com aparecimento de doenças crônicas na fase adulta como hipertensão arterial e diabetes.
O transtorno ainda carece de devida atenção especializada e interdisciplinar no âmbito público e seu tratamento ignorado pelos gestores municipais, estaduais e federais, estes custos revelam uma verdadeira obscenidade e demonstram nossa irresponsabilidade em ainda insistir em mitos ou negligência. Isto está nos saindo muito caro!
O tratamento mais eficaz e de fácil acesso na condução do TDAH é o medicamentoso e seus custos, em comparação com os gastos revelados pela pesquisa, são relativamente baixos. O metilfenidato de rápida liberação/absorção, de 10mg, por exemplo, é barato e acessível e, mesmo assim, ainda é considerado fármaco de primeira escolha no tratamento do TDAH, mas pouco disponível para a maior parcela da população brasileira por acabar pesando de forma significativa no orçamento das famílias. Muitas medicações que já se encontram disponíveis nos postos de saúde têm custos superiores ao do metilfenidato e futuras negociações com os laboratórios que o produzem não parecem ser um obstáculo para a demanda de consumo que virá consequentemente trazendo vantagens econômicas para estes agentes de mercado. Assim, trazer o metilfenidato para o SUS e fornecer aos seus portadores parece uma conduta assertiva e natural.
Doenças que afetam o comportamento e que não levam a deformações ou perdas de órgãos parecem ainda sofrer, no Brasil, de preconceito e ignorância, como se não existissem. Num país onde a educação é um de seus gargalos, identificar tarde (ou nunca) o TDAH é sacrificar ainda mais nosso potencial.