Bruno de Oliveira
Cofundador e diretor de operações e tecnologia
da healthtech Medipreço
As situações de vulnerabilidade em que as pessoas foram colocadas em função do medo da contaminação pela COVID-19 colocaram nos holofotes a agorafobia, transtorno de ansiedade caracterizado pelo medo de lugares e situações que podem causar sensação de pânico. Estima-se que mais de 150 mil brasileiros lutem contra esse transtorno de ansiedade, segundo pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein.
Muitos casos têm relação com crises anteriores de síndrome de pânico, que acabaram gerando traumas mais profundos. O medo desproporcional de que uma pessoa sofra um ataque sem a possibilidade de ajuda é um dos gatilhos.
É possível que cerca de 30% a 50% das pessoas com agorafobia também sofram de pânico. Segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), 85% das doenças poderiam ter sido tratadas em nível de saúde primária, ou seja, antes do avanço para casos mais graves, como a agorafobia.
Doenças crônicas e transtornos psiquiátricos causam uma carga para a sociedade e estão associados a custos diretos e indiretos, os quais são arcados pelos governos, pessoas físicas e empresas.
As fobias sociais aumentam os índices de absenteísmo e, em casos mais graves, os desligamentos. A Pesquisa Work Trend Index, realizada pela Microsoft em 2021, revelou que 40% dos 30 mil profissionais entrevistados em 31 países, incluindo o Brasil, estão pensando em sair do emprego atual, no período pós-pandemia.
Além do prejuízo para a saúde do colaborador, esse quadro causa um prejuízo econômico para toda a sociedade. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os afastamentos causados por depressão, ansiedade, estresse e outros problemas de saúde subiram de 224 mil em 2019 para 289 mil em 2020.
Diversos estudos mostram que o custo total de saúde engloba também as perdas de produtividade, seja por dias de afastamento do trabalho (absenteísmo) ou pela redução da produtividade do trabalhador, que comparece ao trabalho, mas não desempenha plenamente suas tarefas por problemas de saúde (presenteísmo).
A forma de as empresas lidarem com os benefícios da saúde está mudando. Hoje, não basta apenas oferecer recursos, é preciso medir como estão sendo utilizados e seus impactos no ambiente de trabalho.
Para atuar de forma preventiva, os gestores precisam fazer o acompanhamento desde os primeiros sintomas. Nesse ponto, a tecnologia tem desempenhado papel fundamental.
A análise de dados da saúde do colaborador, também chamada de health analytics, é algo muito importante porque permite visualizar indicadores de saúde, desvios e epidemias entre os colaboradores. Com essas informações, o gestor tem em mãos as ferramentas necessárias para tomar decisões eficazes, como medidas preventivas, e contribuir para que o funcionário siga o tratamento até o fim. Isso também diminui o desenvolvimento de transtornos mentais e outras doenças, previne complicações e reduz o uso de serviços de saúde mais custosos.
Dados devem ser usados para gerar valor para o negócio, inclusive quando se fala em saúde do colaborador. Mas, para isso, é preciso um processo que transforme as informações coletadas em insights prospectivos.
Uma pessoa saudável, por exemplo, produz um volume de dados de informação de saúde equivalente a 300 milhões de livros, mas apenas 0,5% de todas essas informações são analisadas.
A visão analítica por meio dos dados já é aplicada hoje por grandes marcas nacionais e internacionais para a identificação de tendências e comportamento padrão; simulação de cenários para antecipar comportamentos e riscos para a saúde do colaborador e definição de planos de ação que possam promover mudanças necessárias e permanentes.
Os gestores de RH, hoje, já podem tomar decisões mais assertivas baseados em dados, com margens menores de erros. Esse é o caminho para o aumento de produtividade, aliado à saúde e ao bem-estar dos colaboradores.