João Guilherme Sabino Ometto
Engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos - EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA)
Na Copa do Mundo do Catar, a Seleção Brasileira, em busca do hexacampeonato, e todos os times participantes jogarão em oito arenas e terão à disposição 136 campos de treinamento, nos quais, além da arquitetura sofisticada, chama atenção a exuberância do verde e a qualidade dos gramados, num acentuado contraste com o cinza do deserto. Cultivá-los e mantê-los num clima tão desfavorável é obra dos avanços tecnológicos do agronegócio, um dos fatores responsáveis pelo imenso ganho de produtividade do setor em nosso país: nas últimas quatro décadas, nossa área plantada expandiu-se em 33%, mas a produção agrícola cresceu 386%. Ou seja, cultivamos muito mais, ampliando em proporção muito menor as terras ocupadas pelas culturas.
No quesito tecnológico, a exemplo de nossa seleção de futebol, também já temos cinco conquistas marcantes: sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta; plantio direto; fixação biológica de nitrogênio; uso de bioinsumos; e ferramentas como GPS agrícola, sensoriamento remoto, robótica, irrigação automatizada e aplicação de insumos em taxa variável, conforme necessidades específicas, monitoradas com o uso de drones e computadores.
No caso do agronegócio, o hexacampeonato na competição global da inovação seria a ampliação em alta escala de todos esses avanços, proporcionando o acesso do maior número possível de produtores, inclusive os pequenos, médios e agricultores familiares. Eis aí um desafio relevante para o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais a serem empossados em janeiro próximo.
Trata-se de uma prioridade, como se pode constatar nos impactos positivos dos avanços já ocorridos: como resultado da tecnologia/produtividade e da consciência ecológica das mulheres e homens do campo, o setor agropecuário brasileiro utiliza, em média, apenas metade da superfície de suas propriedades para a produção. A área destinada à preservação da vegetação nativa e mananciais nos imóveis registrados e mapeados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) representa 25,6% da superfície nacional, revela a pesquisa “Embrapa Territorial”.
Não é sem razão que os alimentos e commodities agrícolas de nosso país, apesar de pontuais contestações infundadas de alguns poucos concorrentes, têm ampla aceitação global, atendendo a todos os requisitos quanto à origem e respeito aos preceitos ambientais e sanitários. É por isso que os brasileiros que viajarão para assistir à Copa do Mundo consumirão muitos produtos de sua própria terra. Segundo levantamento constante do Portal Comex, nossas exportações para o Catar em 2021 foram de US$ 284,3 milhões. Desse total, o agronegócio respondeu por mais de 55%, com destaque para carnes bovinas e de aves, principalmente. Ah, para evitar mal-entendidos aqui, não estou insinuando que nossos goleiros devam comer frangos no país árabe...
Bom humor à parte, cabe enfatizar que já somos protagonistas como fornecedores mundiais de produtos agropecuários. Com políticas públicas capazes de ampliar a disseminação tecnológica, educação, inclusão digital, mais subvenção ao seguro rural, acesso maior ao crédito e redução dos juros reais pagos pelos produtores, o setor rural empilhará troféus como campeão da economia, da segurança alimentar, da balança comercial, da geração de empregos e investimentos e do desenvolvimento sustentável.