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editorial

COVID-19: os riscos da desmobilização

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A pandemia de COVID-19, que muitos se apressaram em dar por encerrada antecipadamente, volta a dar sinais de alerta em todo o país, e desperta atenção para outra realidade que se acreditava superada: a falta de vacinas, agravada pela estagnação da imunização e pela baixa procura, mesmo por grupos para os quais há doses disponíveis. 




 
Depois de uma queda consistente no total de casos a partir de meados de julho, o Brasil volta a detectar aumento nos diagnósticos, que superaram 22 mil no último balanço de 24 horas do Ministério da Saúde, com média móvel de 20 mil para o período de sete dias seguindo tendência de alta, segundo dados de ontem do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde. 
 
Já a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) detecta em seu mais recente boletim o aumento de infecções pelo coronavírus entre os diagnósticos positivos de Síndrome Respiratória Aguda Grave em estados de todas as regiões do país. Pior: dos casos graves, 93,3% dos que resultaram em morte tinham relação com a COVID-19. 
 
Com o repique das infecções, entidades como a própria Fiocruz voltam a aconselhar o uso de máscaras em locais fechados, com ventilação restrita ou com aglomerações. A recomendação é extensiva, mesmo em outros ambientes e situações, a pessoas com fatores de risco para complicações da COVID-19, como idosos, mulheres grávidas, pacientes com baixa imunidade ou com outras doenças associadas. 




 
Em cidades como Belo Horizonte, a proteção facial já voltou a ser obrigatória em serviços de saúde e de transporte, e recomendada nas mesmas situações preconizadas pela Fiocruz. Chama a atenção o fato de o município alegar falta de vacinas suficientes para ampliar a cobertura de quarta dose para a faixa etária abaixo de 40 anos – reforço que já vem sendo aplicado em parte do país a maiores de 18 –, além de enfrentar escassez de imunizantes para o público infantil.
A situação da capital mineira, somada a alerta atribuído ao Tribunal de Contas da União sobre o descontrole federal quanto à vacinação, espelha uma preocupação nacional: o repique nos diagnósticos de contágio pelo coronavírus, associado à identificação de novas subvariantes, encontra o país com relaxamento generalizado nas políticas de prevenção, ausência de campanhas oficiais e incapacidade de abastecer estados e municípios de imunizantes suficientes para proteger suas populações.
 
Nesse sentido, vale observar avaliação feita pela Fundação Oswaldo Cruz em documento intitulado “Convivência com a COVID-19 na Fiocruz”, divulgado no fim da última semana. Em meio a recomendações voltadas para o público interno, a entidade científica lembra que em 22 de abril deste ano o Ministério da Saúde declarou o encerramento da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional em decorrência da pandemia, dando prazo de 30 dias para que estados, municípios e instituições federais adaptassem suas normas à nova condição.




 
“Essa declaração não representa o fim da pandemia, situação mundial regulamentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e não significa menor necessidade de medidas de vigilância e de prevenção da COVID-19 definidas pelos gestores do SUS nos três níveis federativos e pelas instituições que possuem regulamentação sobre o tema”, alerta o texto da Fiocruz. A fundação chama ainda a atenção para o fato de que a decisão federal trouxe impactos para as compras e contratações públicas necessárias para enfrentar a doença, além de interferir nos registros de produtos para prevenção e tratamento e até na regulamentação do trabalho presencial ou remoto de servidores públicos.
 
Para piorar, a atual gestão federal, acusada de já não ter respondido satisfatoriamente à pandemia no auge da mobilização mundial, se encontra em clima de paralisia. Uma condição que não transmite perspectivas de melhora até o início o ano, quando assume o governo eleito – este por sua vez ainda incapaz de atuar oficialmente, além de totalmente envolvido em questões orçamentárias e políticas.
 
O pesadelo da desassistência vivido nos piores momentos da pandemia, quando faltavam vacinas, leitos, respiradores, sedativos e até oxigênio em alguns pontos do país, ainda está vivo na memória dos brasileiros. Mesmo que em escala infinitamente menor, por ora, a população não esperava ter de se preocupar novamente com ele tão cedo.