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editorial

A nova paternidade

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A emergência de uma paternidade com novos valores e atitudes tem sido cada vez mais observada entre as famílias brasileiras. Embora, de acordo com os registros civis nos cartórios brasileiros, nos dois primeiros anos da pandemia, mais de 320 mil crianças tenham sido registradas sem o nome do pai, a figura paterna ganha novas nuances, reduzindo a distância de gênero se comparada ao papel da figura materna no ambiente familiar. 




Levantamento feito este ano pelo grupo O Boticário, em parceria com a Grimpa, consultoria de pesquisa de mercado e consumer insights, mostrou as mudanças no comportamento dos pais brasileiros nos últimos anos. 
 
Entre os resultados obtidos na pesquisa Retrato da Paternidade no Brasil, alguns pontos chamam a atenção: os pais estão educando os filhos de forma mais consciente, ressignificando alguns estereótipos acerca da figura paterna. Apenas 9% dos entrevistados se declararam “pais provedores”, ou seja, cuja principal responsabilidade é garantir o sustento dos filhos; metade, 50%, consideraram-se “pais participativos”, aqueles que acompanham as etapas do desenvolvimento do filho e estão sempre disponíveis. 
 
O dado também é expressivo quando os pais são perguntados sobre corresponsabilidade: 90% deles acreditam que os cuidados diários e a educação devem ser igualmente divididos entre os responsáveis.
A pesquisa reuniu respostas de 1 mil homens com acesso à internet, das classes A, B e C, de todas as regiões do Brasil, com filhos de 5 a 15 anos. Participaram pais de 25 a 55 anos, cuja visão revelou uma paternidade com mais expressão de afeto e diálogo, bem como a consciência de seu papel. 




 
Essas informações fazem parte de um movimento positivo capitaneado pela paternidade consciente, com impactos saudáveis na vida dos filhos e filhas, das mulheres e das empresas. Pesquisas recentes demonstraram que a presença maior dos pais contribui para o maior desenvolvimento cognitivo das crianças, para um melhor desempenho escolar e para menores taxas de delinquência. 
 
Essa mudança de comportamento por parte dos pais – embora ainda esteja no início – se estende à convivência com as crianças, em todas as fases da vida, gerando benefícios tanto para as crianças quanto para as mulheres, permitindo que as mães deem voz à carreira profissional ou, ainda, não sofram preconceito por se dedicar à vida em família. 
É importante lembrar que é cada vez mais urgente uma reformulação das leis que regem a licença-paternidade. A extensão da licença proporciona um melhor ambiente de trabalho –  tanto para homens quanto para mulheres –, resultando em colaboradores mais felizes e, consequentemente, ajudando no ambiente laboral. 




 
No entanto, embora essa necessidade de as crianças terem pais presentes seja real e comprovada por meio de pesquisas, a realidade é outra. Por mais que os pais digam que querem estar mais próximos de seus filhos, na prática isso não ocorre. E os fatores são vários. 
 
Entre os principais motivos está a falta de políticas públicas que concedam a esses homens um tratamento equânime ao que se refere à licença concedida às mulheres no pós-parto. Atualmente, a licença concedida aos pais é de cinco dias corridos, enquanto que para as mães é de quatro meses e, em alguns casos, até seis meses. 
 
E para piorar, de acordo com o 3º relatório Situação da Paternidade no Mundo (2019), apenas 32% dos trabalhadores brasileiros conseguiram ficar cinco dias em casa quando os bebês nasceram; 27% não tiraram nem um dia sequer; e quase 60% dos homens brasileiros não acompanharam o nascimento do filho ou da filha e aqui incluem-se casais homoafetivos e pais adotivos. De fato, a nova paternidade está em construção e a revisão das leis é cada vez mais necessária.