Jornal Estado de Minas

artigo

Dificuldades corporativas



Gilson E. Fonseca
Consultor de empresas


Segundo os sociólogos, bastam duas pessoas para suscitar relações humanas. No mundo corporativo, basta um encontro de dois empresários, diante da crise atual, para acontecer uma choradeira. Quem é mais vivido não se assusta tanto porque sabe que as crises são cíclicas. A construção civil e seus diversos ramos, como projetos de engenharia, geotecnia, supervisão de grandes obras, topografia, etc. foram duramente atingidos pela pandemia e, agora, estão em um processo de recuperação. Algumas empresas, embora uma minoria, estão com crescimento maior que antes da pandemia e também com resultados melhores.





A crise geral parece mais grave que as outras porque, além de econômica, é também política, atingindo atividades outrora imunes. Em 1982, entretanto, a paralisia nas obras foi maior que agora. Mas, o empresário brasileiro é teimoso, no melhor sentido da palavra, não se entrega facilmente, enfrentou os desafios e, anos depois, gerou crescimentos econômicos expressivos e taxa de desemprego de Primeiro Mundo: perto de 6%. Evidente que não se pode sonhar com superação sem uma gerência adequada para o momento como reduzir custos, mudar perfil das dívidas, alongar prazos de pagamentos, etc. Empresários há que, açodadamente, buscam como primeira iniciativa, para reduzir custos dispensar funcionários. Outros, bisonhamente, cortam até o cafezinho para mostrar “austeridade”. São caminhos tortos que não levam a nada. Com demanda fraca, reduzir o pessoal quase sempre é inevitável, mas apenas como ajustes e é uma ação gerencial que mais exige critérios e cautela, porque pode inviabilizar a empresa na retomada de crescimento.

Outra dificuldade mercadológica preocupante é que, com o enfraquecimento econômico gradativo nos últimos cinco anos, muitas organizações estão enfraquecidas e inadimplentes, dificultando os negócios multilaterais. Órgãos públicos também, mesmo com suas receitas garantidas, estão com atrasos consideráveis nos pagamentos de obras e muitos se aproveitam da falta de recursos legais para puni-los pela inadimplência. Já ocupei este espaço, em outra abordagem, para enfatizar determinadas fraquezas humanas que inviabilizam a manutenção e/ou recuperação de empresas frente às crises. Elas são mais notadas em empresas familiares, onde muitos executivos galgaram postos sem meritocracia, apenas pelo sobrenome.

Esses executivos têm pouca vocação para fazer sacrifícios, abandonar mordomias, bem como desfazer-se de ativos que não gerem receitas. Há até uma piada para retratar o assunto. O CEO de uma grande empresa chama um funcionário e lhe diz: “Estou muito feliz com você, que, com três meses de estágio, passou a chefe de seção. Com seis meses chegou a chefe de departamento e, com apenas um ano já é diretor”. O funcionário lhe responde: “Obrigado, papai!”. Portanto, sem cortar na própria carne, há poucas saídas para acabar com o estresse de hoje, exceto os banqueiros, que, historicamente, imunes às crises, sempre ostentam polpudos lucros.