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Estado de Minas editorial

China e a política de "COVID zero"

A verdade é que a política de COVID zero implementada pelo governo chinês deixou a economia do país em frangalhos


28/12/2022 04:00


A política de COVID zero adotada pela China há cerca de três anos tem suscitado, ao mesmo tempo, críticas e elogios ao redor do mundo. Várias cidades importantes do país fizeram uma série de protestos contra a rigidez dos lockdowns promovidos pelas autoridades chinesas na tentativa de conter o coronavírus.

O governo do presidente Xi Jinping foi posto à prova, com milhares de pessoas indo às ruas, deixando o Partido Comunista da China de cabelos em pé para conter os descontentes mais inflamados.

Recentemente, o governo chinês anunciou o relaxamento das restrições, com a eliminação da quarentena para viajantes a partir de 8 de janeiro, após um longo período de fronteiras fechadas. A Comissão Nacional de Saúde do país anunciou, inclusive, que a COVID seria formalmente rebaixada para uma doença infecciosa de classe B.

Outra mudança é a liberação para pessoas com vistos de trabalho ou estudo, além da flexibilização de encontros familiares e reuniões profissionais, embora os viajantes ainda tenham que fazer um teste PCR ao adentrar em território chinês.

No entanto, essa decisão veio em má hora, talvez no pior momento da disseminação do coronavírus. Nos últimos dias, os hospitais estão extremamente sobrecarregados, com altas taxas de morte entre idosos. E a contagem diária de novos casos e mortes da COVID parou de ser divulgada, mas uma empresa britânica de dados de saúde chegou a divulgar que a China estaria enfrentando mais de 1 milhão de infecções e 5 mil mortes por dia.

A verdade é que a política de COVID zero implementada pelo governo chinês deixou a economia do país em frangalhos, além do desgaste da população, cansada das restrições e do excesso na quantidade e na frequência de testes contra o vírus.

Se por um lado a flexibilização das regras tenha sido bem recebida por milhares de chineses, o governo de Xi Jinping também tem sido bastante criticado pelo que a população denominou de “liberdade repentina”, após anos de controle rígido. Se pensarmos que a maioria dos 1,4 bilhão de habitantes chineses não foi exposta “adequadamente” ao vírus – nem pela infecção natural, nem pelas vacinas ativadas (a China optou por vacinas inativadas, menos eficazes do que as vacinas de RNA mensageiro, usadas na Europa e nos Estados Unidos) –, há uma lacuna imunológica grave.

A abertura das fronteiras, neste momento, em que a China se aproxima de um novo pico de casos, foi igualmente condenada nas redes sociais. A alegação é de que muitas pessoas que passaram meses e até anos confinadas, agora estão sendo infectadas, apresentando sintomas como mal-estar e febre. Por que não esperar mais um pouco?

Aliado a isso, cidades cosmopolitas – como Pequim e Xangai – vivem ainda uma onda de baixas temperaturas devido ao inverno rigoroso, com altos índices de casos de gripe. O temor é que casos de mortes por COVID estejam sendo subnotificados (“jogados” para a conta dos óbitos por gripe) ou não notificados.

Fato é que Xi Jinping e as autoridades de saúde terão pela frente novos desafios: lidar com uma população com pouca ou nenhuma imunidade natural, pouca imunidade adquirida derivada de vacinas menos eficazes e, ainda, com a possibilidade de um novo surto de coronavírus e consequente descontrole a ponto de o sistema de saúde do país entrar em colapso.


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