Jornal Estado de Minas

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Esperança de grandes avanços no tratamento contra o melanoma




Octavio de Castro Menezes Candido
Oncologista clínico do Grupo Oncoclínicas e do Hospital Felício Rocho, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica

Imagine então se você pudesse olhar para a célula do câncer de pele e fosse capaz de identificar pequenos detalhes nela que possibilitariam o seu sistema imunológico de encontrá-la mais facilmente em qualquer parte do organismo. Pois é exatamente isso que a nova tecnologia de vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra a neoplasia promete. Em fase 2 de testes, os estudos apresentaram uma redução de 44% no risco de recidiva ou morte em pacientes com melanoma de estágios III ou IV, quando associada à Pembrolizumabe (Keytruda), outro medicamento amplamente empregado nesse cenário e com bons resultados de eficácia.





Vale destacar, a título de curiosidade, que a vacina mRNA-4157/V940 foi desenvolvida baseada na mesma tecnologia utilizada para a fabricação das vacinas da Pfizer e Moderna contra a COVID-19, deixando evidente que o progresso na oncologia vem a passos largos e rápidos, intercambiando tecnologias provenientes de diversas áreas da medicina. Diante dos aparentes resultados promissores dos estudos preliminares, desenvolvidos para o melanoma, as farmacêuticas responsáveis consideram expandir a pesquisa para outros tipos de tumores.

Os melanomas são tumores com alta capacidade imunogênica, ou seja, suas células carregam uma carga mutacional capaz de produzir em sua superfície proteínas estranhas ao sistema imunológico, que facilitam seu reconhecimento pelas células de defesa. O RNA mensageiro nas vacinas utiliza essa característica para potencializar a ação imunológica do organismo contra esses tumores. O que é melhor, de maneira quase personalizada, uma vez que cada indivíduo tem um tumor único, que muitas vezes carrega mutações próprias.

Isso significa dizer que o novo produto permite a construção de um imunizante “individual” com até 34 antígenos detectados nas superfícies das células de melanomas. Ao ser administrada, a vacina replica esses antígenos no corpo e aguça as células de defesa a encontrá-los e destruí-los, levando a uma batalha permanente entre o sistema imunológico e o tumor.





Ainda este ano, espera-se que seja realizada a última fase de testes da vacina antes de ser liberada para uso no mercado. É possível que em breve tenhamos acesso a ela em ambiente de estudos clínicos, ampliando o alcance dessas inovações para uma parcela importante dos pacientes no Brasil.

O Brasil deverá registrar cerca de 220 mil novos casos de câncer de pele não melanoma e 8.980 diagnósticos de melanoma em cada ano do triênio 2023-2025, conforme estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Apesar de ser o menos incidente, o melanoma é o mais agressivo, com alto índice de mortalidade. Contudo, quando diagnosticado na fase inicial, as chances de cura podem ser superiores a 90%.