Henrique Hélcio Eleto dos Santos
Consultor de sustentabilidade da Biosfera Soluções Sustentáveis
Nos últimos dias, tivemos a infelicidade de conhecer a situação de miséria humana que vem se instalando na tribo indígena dos yanomamis. Crianças, mulheres, idosos e adultos privados da dignidade básica de quem nasce gente e quer ser tratada como tal. Um povo sofrido que tem sido ignorado em uma terra que tinha dono, mas, hoje, é de ninguém.
Há mais de 20 anos, garimpeiros ilegais roubaram a alma desse povo, que depende da terra e da natureza para sobreviver, destruíram suas aldeias e os expuseram a doenças para as quais não têm imunidade. Um “cala a boca” feroz, inescrupuloso e covarde de um dos maiores povos indígenas da América do Sul, que vive nas florestas e montanhas do Norte do Brasil e Sul da Venezuela. E se a situação em si já não é grave demais e chocante, principalmente, ao ver crianças que têm a água que mata a sede negada, contaminadas com mercúrio, febris pelo alastramento da malária e sem alimento de um rio que está morto, há quem ainda julga, nega a realidade e atribui a existência dessa situação triste a uma ficção ou criação política.
Não. A gente não pode negar a fome, nem a criança que chora com as costelas à mostra. A gente não pode fechar os olhos para o garimpeiro dentro das terras e os impactos catastróficos à vida e ao meio ambiente. Não podemos dar as costas para o choro, o sofrimento e a dor delirante de uma mãe que perdeu o filho para a desnutrição. Não há espaço para separação, divergências e discussões. É impossível não se chocar.
A situação clama por nós, pelo olhar dentro da floresta, ou a nossa memória nos pregará a peça de esquecer os que morreram lutando contra o contrabando ilegal, as extrações ilícitas e os garimpos clandestinos? Precisamos lembrar da nossa história e dos primórdios dela construída por aldeias inteiras, pelos nossos guardiões da floresta.
Temos que enaltecer a luta daqueles que não têm mais voz para ecoar na grande floresta e onde se ouvem choros das ausências da irmã Dorothy Stang, do indigenista Bruno Araújo, do jornalista britânico Dom Philip, de Chico Mendes e tantos, mas tantos outros.
Toda essa triste história me lembra do discurso bem-elaborado e dentro das siglas modernas da sustentabilidade, mas que não passam de uma estampa do parecer ser. Ser sustentável exige doação, envolvimento, se despir da hipocrisia que movimenta o mundo dos negócios porque, sem a vida, só haverá o oposto dela. A luta pela vida exige ação. Precisamos entrar em choque e mudar a história. Afinal, abençoados são os olhos que enxergam e os ouvidos que ouvem a voz da vida desesperada pelo fim desta cegueira.