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Dia Internacional da Mulher: a importância do empoderamento infantil


02/03/2023 04:00

Talitha Nobre
Psicóloga do Grupo Prontobaby

ilustração para artigo


Empoderar mulheres e promover a equidade de gênero são ações essenciais para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do país, além da melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo, é o que afirma a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres).

Para o próximo dia 8 de março, a pergunta que fica é: como criar meninas empoderadas?

Empoderar é o ato de dar poder a alguém. Quando falamos sobre empoderamento infantil, basicamente estamos proferindo sobre permitir que a criança conheça suas emoções, tenha autoestima e autoconfiança em conversar e dizer como se sente.

Dados levantados pela Unicef apontam que meninas de 5 a 14 anos passam 160 milhões de horas a mais do que os meninos da mesma faixa etária em atividades domésticas não remuneradas. Isso compromete o acesso à educação, desenvolvimento de seus potenciais, além de oportunidades de lazer e atividades de socialização.

A construção do feminino é feita de maneira inconsciente, desde o nascimento da mulher. Existe uma influência do modelo patriarcal, da repressão à mulher e da submissão ao homem. Apesar de o movimento feminista ter feito grandes avanços, as mulheres ainda sofrem muito na sociedade para sair desse lugar objetificado.

Na clínica, observamos sofrimentos psíquicos oriundos da difícil tarefa de se construir como mulher. “O que é ser mulher?” é uma pergunta que nos acompanha desde a infância. Todo esse contorno da sociedade que nos objetifica torna essa busca um sofrimento ainda maior, porque isso não responde a essa indagação do que é ser.

Uma pesquisa publicada pela revista Science aponta que 30% das meninas entre 6 e 7 anos se sentem menos inteligentes do que os meninos. Essa constatação demonstra a importância e a necessidade do empoderamento das garotas na infância. Neste cenário, a educação é um caminho para a desconstrução.

Quando pensamos na questão da construção do feminino, os pais, sem perceber, desde cedo já aprisionam suas filhas a padrões estéticos pré-definidos e isso vai se repetindo na escola, na mídia. É importante que os adultos rompam com essa lógica e permitam um ambiente onde os filhos possam ser conscientes de si próprios, de suas habilidades e beleza. É necessário que eles possam valorizar a criança na sua subjetividade.

Estereótipos aprisionam e são reducionistas. Somos seres subjetivos e quanto mais engessados a padrões, mais adoecidos emocionalmente podemos ficar. Os pais têm um papel fundamental nesse processo. Todos somos diferentes um do outro e é importante que possamos ser. Os rótulos, aparentemente inocentes, muitas vezes inibem a produção de subjetividade da criança e faz com que ela se sinta mal quando percebe que tem alguma coisa diferente dos colegas.

Criar crianças empoderadas requer investimento e diálogo, por isso, para que possam se impor e lutar pelos seus próprios direitos no futuro, é importante que desde os primeiros anos elas tenham seus sentimentos validados.

Toda criança precisa ter um espaço de fala. Normalmente objetificamos as crianças e subestimamos seus sentimentos. Por exemplo: como você se sentiria se batessem seu carro? E por que quando a criança se entristece porque quebrou um brinquedo dizemos: não chore, a gente compra outro? Veja: para ela, aquele brinquedo era tão importante quanto para você é o seu carro. Precisamos permitir que a criança expresse seus sentimentos, frustrações, afetos e validá-los. Dizer que ela não deve chorar ou sentir pode causar um grande estrago.

Em 2016, a ONG Save The Children publicou uma pesquisa apontando o Brasil como um dos piores países para ser menina. Segundo o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2018, uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil. Na edição de 2020, os dados sobre estupro mostravam um registro a cada 8 minutos.

Incentivar a leitura de livros escritos por mulheres ou sobre elas, abordar a importância de lideranças femininas na história, promover debates sobre violência de gênero a partir de notícias recentes são algumas diretrizes para trabalhar o empoderamento feminino nas crianças.

O maior sofrimento psíquico que pode haver é quando o sujeito é silenciado, quando lhe censuram a expressão. E esse ideal padronizado acaba por inibir a singularidade e constrói robôs, corpos padronizados e ideais maníacos inatingíveis. É preciso nos libertar desse imperativo da perfeição para que possamos nos aproximar de nós mesmos. A autoaceitação está ligada diretamente ao autoconhecimento. Políticas públicas e engajamento social, como a lei Maria da Penha, também têm sido pilares fundamentais para uma mudança na sociedade. Mas essa mudança pode também ser feita a partir de cada um de nós, de espaços como esse, provocando reflexão. É um longo, porém importante caminho. Só é possível trabalhar o empoderamento infantil quando compreendemos todo esse contexto e desconstruímos essa cultura que permeia a sociedade.


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