Carla Furtado
Diretora do Instituto Feliciência
Um estudo científico recém-publicado confirma: estilos de liderança impactam de maneira significativa na saúde mental dos colaboradores. A novidade trazida por pesquisadores das Universidades de Tübingen, na Alemanha, e Radboud, na Holanda, é que organizações se beneficiam ao adotar duas iniciativas simultâneas: mitigar comportamentos tóxicos em líderes que ainda os praticam e incrementar o número de líderes com comportamentos saudáveis. Em outras palavras, é sobre reduzir o negativo e ampliar o positivo ao mesmo tempo.
Para chegar a esta conclusão, foram analisados 53 estudos que verificaram diferentes estilos de liderança e seus impactos no bem-estar dos trabalhadores. A metanálise apresenta sete diferentes tipos, sendo a liderança transacional a mais usual – quando se premia quem performa bem e se pune quem não apresenta o desempenho desejado. Que não se confunda liderança transacional com liderança transformacional, até porque foi esta segunda que apresentou o melhor impacto na saúde mental dos colaboradores, enquanto a liderança destrutiva ficou no polo oposto – sim, ela existe e com este nome.
Um líder transformacional caracteriza-se por influenciar sua equipe a partir de uma visão inspiradora que estimula o engajamento e o pensamento criativo, além de abordar e considerar cada integrante de maneira única. Este estilo, segundo a pesquisa, apresentou os melhores resultados na avaliação subjetiva de bem-estar dos colaboradores. Já a liderança destrutiva caracteriza-se pelo comportamento agressivo e potencialmente prejudicial do líder em relação ao seu time, bem como o encorajamento para que os colaboradores contrariem os interesses da organização. Este, como é de se imaginar, afeta diretamente a saúde mental do trabalhador.
O momento eureca vem a seguir: a pesquisa mostrou que o potencial prejudicial de um líder ruim não é maior que o potencial benéfico de um líder inspirador. Os cientistas concluíram que a liderança transformacional é tão poderosa para explicar os resultados positivos de saúde mental quanto a liderança destrutiva para explicar os resultados negativos. E é aqui que recomendam que as organizações mitiguem a liderança destrutiva e, ao mesmo tempo, incrementem o número de líderes transformacionais. É preciso desenvolver aqueles que estão no meio do caminho, os que longe de adotarem comportamentos tóxicos ainda não desenvolveram competências para inspirar e engajar.
Apresentados os achados da pesquisa, que já atingiu um fator de impacto considerável na comunidade científica mundial, partilho aqui minhas reflexões como também pesquisadora em saúde mental e bem-estar do trabalhador. Estamos atravessando elevados índices de depressão e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), com cerca de 15% os trabalhadores vivenciando algum transtorno mental e comportamental. Apoiar e desenvolver os líderes dentro de modelos que priorizem a saúde – deles mesmos e de suas equipes – apoiará a sedimentação de uma cultura de florescimento humano e dos negócios. As organizações devem trabalhar para que os colaboradores usem os recursos oferecidos para promoção da saúde em benefício do bem-estar e não para anestesiar os efeitos nocivos de ambientes e relações tóxicas.