Sacha Calmon
Advogado, doutor em direito público (UFMG). Coordenador do curso de especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular das faculdades de direito da UFMG e da UFRJ. Ex-juiz federal e procurador-chefe da Procuradoria Fiscal de Minas Gerais. Presidente honorário da ABRADT e ex-presidente da ABDF no Rio de Janeiro. Autor do livro “Curso de direito tributário brasileiro” (Forense)
omo a direita é ambígua e egoísta é fácil desmascará-la. Sempre foi assim. Começam pela exaltação do “patriotismo” (último refúgio dos canalhas, segundo Unamuno), da “família” e da “propriedade”. É de se perguntar onde está o tal comunismo de Lula. Onde? Eis outra mentira exposta.
Foi assim com o nazismo botando a culpa de tudo nos judeus e nos “comunistas”, com o fascismo italiano e o integralismo brasileiro, sob a liderança de Plínio Salgado e Gustavo Barroso, os quais tentaram tomar o poder pela força – tinham se infiltrado nos meios militares –, mas foram desarticulados por Getúlio Vargas.
Reforçam os direitistas a tese enganosa de preferências por nomes de políticos carismáticos em lugar de partidos programáticos. Do lado do PT o caminho a seguir se apresenta claro, ou seja, manter a economia com a estrutura atual e praticar na saúde, na educação e assistência social, em prol dos desvalidos, vigorosas políticas públicas de combate à fome e a miséria, fazendo girar a economia do país.
De resto, foi esse discurso e a memória coletiva de seu mandato (2003 a 2010) que o fizeram ganhar a eleições de 2022, a mais apertada da nossa segunda república, esta iniciada em 1985 após a queda da já carcomida ditadura militar (de1964 a 1985) com a eleição indireta de Tancredo Neves.
Entretanto, há no Brasil, ao contrário dos EUA e da Europa Ocidental, uma parcela significativa da classe média descasada das ideias democráticas, a namorar políticos e pessoas autoritárias.
Insondáveis são os caminhos do Senhor. Nossa hora decisiva é necessário “ir com fé”. O Senhor pede o seu apoio àquele que do povo se ergueu para enfrentar o príncipe do mal. Não se trata de peça literária ou de versos de cordel, mas da etapa, a mais decisiva da luta do bem contra o mal, do ódio e da destruição contra a ordem e a paz.
As pessoas autocráticas, cevadas no discurso de ódio ao adversário, reiteradamente pronunciado pelo mais recente ex-presidente do Brasil, estão fadadas ao fracasso financeiro e moral. Mentiras e fake news são obras malignas a difundir ódio e violência, por caminhos destoantes dos evangelhos a pregar paz no conviver.
O Brasil começa agora, espera-se, uma revolução na educação e na saúde que nos leve, como povo, a um novo patamar, ou seremos para sempre um país desigual e de renda média na divisão do produto interno bruto (PIB) entre seus habitantes. É nossa última oportunidade em face de pirâmide etária. Como dizia João Ubaldo Ribeiro, não basta vencer o inimigo, mas utilizar a sua derrota para construir a paz.
Vivemos verdadeiramente um envenenamento político jamais visto no país, por força da mesquinhez política, baseada nas “fake news”.
Assim como Collor de Mello esse período, espera-se, deve se desfazer no ar, ventilado pela democracia. É cedo para dizer que bolsonarismo é tal e qual Collor de Mello, um meteoro político, a cruzar os céus da República. Mas é fora de dúvida a incompetência política do “coisa” para entender os mecanismos democráticos.
Voltemos, entretanto, a pergunta original. Onde o novo Governo está atentando contra a democracia, onde?
Em contrapartida, o dia 8 de janeiro de 2023 é a prova acabada e planejada de um ataque furioso contra a democracia, por parte de declarados bolsonaristas contra a democracia, a ordem e o respeito ao resultado democrático das urnas (o único país no mundo que apura 156 milhões de votos em apenas 6 horas).
É motivo de orgulho nacional termos construído um tão eficiente sistema.
Para quem passou o mandato inteiro dizendo que urnas eletrônicas eram falhas, é de se perguntar por que não renunciou, vez que eleito por um sistema impuro...!
É preciso apoiar os esforços do Governo atual para desenvolver o país apesar dos juros básicos do BC estarem muito altos.
Estamos em um momento decisivo de nossa história e queremos nos desenvolver a base da iniciativa privada sem socialismo algum. Lula não postula nenhuma forma de socialismo nem mesmo o vigente na Suécia, Alemanha e Noruega, mas sim o aproveitamento do aparato estatal vigente no Brasil.
É preciso darmos o crédito necessário ao novo governo, pois não podemos permanecer para sempre com um país de renda média com profundas desigualdades sociais.
Apesar da má vontade de alguns e não são poucos empresários, os que trabalham na indústria, no comércio e na terra estão dispostos a cooperar.
O BC e o setor financeiro é que querem ter lucros estratosféricos, lidando com especulação em dissonância com os setores produtivos.