Frederico Brina
Geriatra
uem convive ou já conviveu com pessoas idosas sabe as dores e delícias que esta experiência proporciona. Alguns seguem lúcidos até o último suspiro, permanecendo ativos no convívio familiar e social. Outros, com o avançar da idade, demandam um cuidado mais direcionado, com a necessidade da presença de um cuidador (a) para orientar na rotina de medicamentos, consultas médicas, alimentação, atividade física, locomoção, no banho, na higiene geral, etc. As necessidades são muitas e variam individualmente de acordo com cada caso. Um cuidador de idosos, sendo este um profissional especializado ou um membro da família, é muito mais do que alguém que controla a dosagem de medicamentos e faz companhia para quem, agora, necessita de mais amparo e atenção.
O aumento da expectativa de vida do brasileiro faz com que a profissão de cuidador de idosos seja cada vez mais procurada e a profissionalização do cuidador se faz necessária para lidar com as necessidades e limitações de cada paciente, garantindo o bem-estar físico e mental de quem é assistido. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que até 2050, 90 milhões de brasileiros terão mais de 60 anos. Faça as contas, isto inclui eu e você, meu caro (a) leitor (a).
Mais do que habilidades técnicas, organização e responsabilidade, o cuidador (a) precisa ter empatia, paciência, atenção, boa comunicação, resiliência. Ele possui papel fundamental para auxiliar na saúde e bem-estar do idoso, que muitas vezes resiste à sua presença, discute, faz cara feia, mas acima de todas as dificuldades, também cria vínculo. O cuidador (a) passa a ser ouvinte, confidente. É ele quem vai ouvir a mesma história repetidas vezes, ou na ausência/impossibilidade da fala, vai receber um obrigado com um olhar terno, através do sorriso ou aperto de mão. Muitas vezes, pode não haver a manifestação de gratidão em função da condição física ou mental do paciente. Ossos do ofício, mas também é um golpe duro para o cuidador (a). Mesmo para quem está preparado para lidar com as mais adversas situações de saúde do paciente, é difícil colocar o lado humano de lado e não se comover ou envolver. Todos os aspectos relacionados ao cuidar, cedo ou tarde podem sobrecarregar o cuidador. E nesta hora, quem cuida de quem cuida?
A saúde mental e o bem-estar emocional de quem escolhe ser cuidador (a) de idosos por vontade própria ou do familiar que se responsabiliza pelos cuidados com o idoso, precisa estar em equilíbrio por uma série de razões, como, por exemplo: é preciso lidar com as frustrações e medos do idoso, lidar com a “rebeldia” de quem não aceita ter um cuidador (a), amparar emocionalmente quem se vê abandonado pela família, entender a brevidade da vida sob o olhar de quem por mais que esteja cercado por filhos e netos; sente-se sozinho ao dar-se conta de que já perdeu os pais, irmãos e todos os parentes, sendo ele, o último a estar vivo daquela geração que hoje está na memória e no álbum de fotos. E por fim, o luto. O cuidador (a) é dispensado de suas funções e vê partir mais um dentre tantos outros que ele já cuidou e irá cuidar.
A dor da perda, independentemente da sua intensidade, mexe com o emocional de qualquer pessoa, especialmente de quem passa boa parte do seu tempo sendo a companhia nos últimos dias da vida de alguém. Por isso, cuidador (a), é de fundamental importância dedicar parte do seu tempo livre a cuidar de si. Seja através da prática de atividade física, da meditação, terapia, leitura ou esporte. Seja você um profissional ou familiar, atente-se para as suas próprias necessidades, esteja bem para si mesmo para que possa cuidar do outro com excelência, carinho e serenidade. O que as pessoas mais necessitam nos momentos de fragilidade é de empatia, afeto. Assim, todo o resto flui melhor. Ser cuidador (a) de idosos é uma rotina estressante, cansativa, que envolve noites maldormidas, vigilância constante, jogo de cintura, medo. Por isso, cuidar de quem cuida é indispensável. No caminho de quem cuida e de quem é cuidado existe dor, mas também existe muito amor.