Jornal Estado de Minas

2 de Abril - Dia Mundial de Conscientização do Transtorno do Espectro Autista

A visão do fonoaudiólogo

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

Flaviana Gomes
Conselheira do Crefono 6 (Conselho Regional de Fonoaudiologia 6ª Região)

Muitas pessoas estão se perguntando sobre o grande número de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a diversidade dos sintomas. Ele começou a ser estudado há muitos anos e, por muito tempo, acreditou-se que o comportamento autista da criança era por culpa da família, principalmente das mães. O entendimento do autismo passou por muitas mudanças e atualmente é visto como uma interação entre fatores ambientais e genéticos, portanto, não há uma causa única.





TEA é definido como um transtorno do neurodesenvolvimento que se manifesta cedo e pode ser identificado antes da criança ingressar na escola. Elas podem apresentar dificuldades persistentes na comunicação e na interação social, pouca habilidade com a linguagem gestual e limitação para manter e compreender relacionamentos. O diagnóstico também requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos com as mãos, pulos no mesmo lugar, enfileirar objetos, se apegar a partes específicas dos objetos (rodinha do carro, por exemplo) etc.. Esse transtorno pode acarretar prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional.

No Brasil, não existe uma pesquisa que mostre a sua prevalência, mas nos EUA sabe-se que 1 a cada 36 crianças com 8 anos de idade é diagnosticada com TEA (CDC, 2023), que acomete mais meninos que meninas. Para chegar ao diagnóstico, que é essencialmente clínico, a criança deve passar por uma avaliação multiprofissional – médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e pedagogos. Na prática clínica tem-se observado que uma grande quantidade de crianças nascidas na pandemia está exposta a muitas horas de telas diariamente e estão inseridas em um ambiente pouco estimulador. Consequentemente, apresentam o atraso na linguagem oral infantil (não falam na idade certa e preferem brincar sozinhas). Mas será que todas essas crianças apresentam o TEA? Para chegar ao diagnóstico, faz-se necessária a comunicação entre a equipe para identificar todos os sinais e sintomas específicos desse transtorno. E se a família tem dúvida quanto ao desenvolvimento da comunicação e linguagem de seu filho(a), precisa procurar ajuda do fonoaudiólogo, que é o profissional capacitado para avaliar essa queixa específica e fazer os encaminhamentos necessários. Muitos pais se sentem angustiados e perdidos e buscam informações em diversas fontes, que podem não ser confiáveis. O fonoaudiólogo com especialização em linguagem dará todo esse suporte para a família, com orientações sobre como estimular sua criança em casa e nos diversos ambientes sociais.

Os primeiros sinais e sintomas do TEA podem aparecer muito cedo. Os bebês, ainda com meses de vida, já conseguem se comunicar pelo choro, pelos movimentos corporais e interação face a face. O bebê que é muito apático ou irritadiço, não responde aos sorrisos dos familiares, tem pouco interesse nos brinquedos, não produz sons pode acender um alerta aos pais. Por volta de 1 ano de idade já é esperado que fale as primeiras palavras, aponte o que deseja, mande tchau com as mãos, mande beijos e tenha boa interação com o adulto. Outra situação é quando a criança se desenvolve bem, fala dentro do esperado para a idade, mas por volta de 2 a 3 anos, interrompe esse processo, e para de falar ou diminui drasticamente o seu vocabulário. Em relação ao comportamento, existem aquelas que são mais agitadas, enquanto outras mais quietas e passivas. O comportamento costuma ser muito rígido, a criança tem dificuldade em mudar a rotina diária, alterar o caminho de casa para escola, precisa separar as roupas ou alimentos por cores etc.. Cada criança terá sua característica própria e suas particularidades. O tratamento dessas crianças deve atender à sua demanda específica, respeitando seus gostos e interesses.





Atualmente, TEA é classificado em 3 níveis de suporte. Nível 1, a criança é mais independente do cuidador, realiza suas tarefas com autonomia, é uma criança geralmente com boa produção da fala e com interesses muito específicos. No nível 2, a criança já depende um pouco mais dos cuidadores, apresenta maior dificuldade na comunicação social e pode apresentar mais movimentos repetitivos e rigidez no comportamento. No nível 3, a criança é dependente integralmente, pode ter mais episódios de agressividade e autoagressão e ausência da linguagem oral.

O TEA tem tratamento e esse indivíduo pode avançar significativamente na sua comunicação e interação social, atenuar os comportamentos mais agressivos, melhorar a rigidez, ter ganhos emocionais, cognitivos e sociais. Essa condição não tem cura e a pessoa necessita do olhar atento da família e de sua rede de apoio para que se desenvolva adequadamente. Importante ressaltar que os sintomas, isoladamente, podem não configurar o diagnóstico de TEA, tornando a avaliação interdisciplinar fundamental.