José Renato de Castro Cesar
Administrador e indigenista da Funai/Museu do Índio
No próximo dia 19 de abril, as equipes do Museu do Índio, da Funai, da Unesco, os Amigos do Museu do Índio, a Fundação Darcy Ribeiro e os povos indígenas do Brasil vão comemorar os 70 anos de sua fundação com muita alegria, orgulho e satisfação. Eu faço parte do Museu do Índio desde 2016, e, tenho aprendido muito desde então. O mais importante que aprendi, foi Darcy quem mo ensinou: “O museu é o primeiro devotado não a mostrar bizarrices etnográficas, mas as altas contribuições culturais dos indígenas à nossa cultura, e, sobretudo, lutar contra o preconceito que apresenta os índios como atrasados, preguiçosos e desconfiado”. Procuro seguir essa picada.
Como braço técnico e científico do antigo SPI – Serviço de Proteção aos Índios, o Museu do Índio foi fundado por Darcy Ribeiro (cujo centenário relembramos aqui, no ano passado) com apoio do Marechal Cândido Rondon e dos colegas do SPI, Max Bodin, Eduardo Galvão, Heinz Foerthmann (renomados etnólogos e antropólogos) e de Berta Ribeiro (antropóloga e esposa de Darcy), cujos trabalhos de campo e coleções ergológicas vieram a fazer parte do Museu do Índio, mais tarde.
O acervo etnográfico do Museu do Índio é de uma riqueza ímpar. Composto por mais de 20 mil itens, retrata a potência das culturas indígenas vivendo nas Florestas Tropicais e no Cerrado. Como descrever as ferramentas de pedra, de ossos, madeiras e conchas, e, os utensílios domésticos, as armas, vestimentas, decorações e rituais? Como descrever as centenas de fotografias e filmes etnográficos tão importantes e tão maravilhosos, que sobraram do incêndio criminoso causado na sede do SPI e noticiado em 1968, pelo Jornal do Brasil, e, que se tornou escândalo no Indigenismo Brasileiro?
O“Relatório Figueiredo” é um dos muitos documentos raros do Museu do Índio e demonstra o que tem sido a História dos Povos Indígenas na República. Estes acervos técnicos, etnográficos, imagéticos e documentais do Museu do Índio são de extrema importância para o Indigenismo Brasileiro e para a História da Humanidade. Eles compõem o que Jacques Le Goff (1924-2014) definia como memória coletiva: o “documento monumento” que prova e comprova a História Social de um povo.
Parte do incrível acervo do Museu do Índio é a Biblioteca Marechal Rondon, com mais de 18 mil volumes nacionais e estrangeiros; quase 80 mil registros audiovisuais e 500 metros lineares de acervo textual indígena (MELLO, 2018). Rodrigo Piquet Sabóia de Mello, indigenista e pesquisador do Museu do Índio, ressalta: “os arquivos indigenistas representaram um meio de controle e poder do Estado para grupos não hegemônicos da sociedade brasileira. Cabe também ressaltar ser importante problematizar a natureza da relação dos ativos intangíveis com a documentação sobre os povos indígenas brasileiros”.
Fato social que demonstra que a sociedade brasileira se depara com um novo momento na história do Indigenismo Brasileiro e na História do Museu do Índio, uma vez que com o novo Governo Lula, o protagonismo indígena deverá ocupar, definitivamente, a liderança de novos ares decoloniais. Nós, técnicos e cientistas do Museu do Índio, estamos de braços abertos para esta nova fase, esperando ansiosos pelas visitas de Lula, Janja, Sônia Guajajara, Joênia Wapichana, Célia Xacriabá e quem mais quiser vir festejar conosco tanta riqueza!