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Editorial

Acordos com a China restritos à economia

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A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a China envolve acordos comerciais que podem garantir a reativação da fábrica de automóveis em Camaçari (BA) fechada pela norte-americana Ford e a venda de aeronaves da Embraer para o mercado chinês. No lugar da Ford, tende a entrar a chinesa BYD, fabricante de carros elétricos, enquanto a fabricante brasileira de aeronaves deve fechar contrato para entrega de 20 aviões comerciais E-195-E, com valor estimado de mais de US$ 1 bilhão. Os dois acordos buscam, de um lado, garantir investimentos chineses no Brasil voltados para a reindustrialização e, de outro, abrir o mercado do país asiático para produtos transformados brasileiros.





Hoje, a China é de longe o maior parceiro comercial do Brasil, uma relação que vem desde 2009, quando o gigante asiático superou os Estados Unidos como principal destino das nossas exportações. Naquele ano, as vendas do Brasil para a China somaram US$ 20,2 bilhões, contra US$ 15,4 bilhões em produtos destinados aos Estados Unidos. A corrente de comércio foi respectivamente de US$ 36,1 bilhões e US$ 35 bilhões. Além de maior parceiro, a balança comercial com a China ficou superavitária em 2019, enquanto com os EUA o resultado foi um déficit para o Brasil. As exportações para a China representam mais de 30% das vendas externas brasileiras, mas estão praticamente restritas a minério de ferro, soja e petróleo.

De lá para cá, o intercâmbio brasileiro com a China se multiplicou, com as exportações para o país asiático representando US$ 91,2 bilhões no ano passado. Esse valor é quase o dobro do que o Brasil vendeu para os Estados Unidos no ano passado (US$ 49,89 bilhões). Na relação com as duas maiores economias do planeta, o Brasil continua superavitário com a China (US$ 29,6 bilhões) e deficitário com os EUA (-US$ 1,41 bilhão). Além de ser o maior parceiro comercial do Brasil, a China integra o bloco econômico formado por ela, Brasil, Índia, Rússia e África do Sul, o Brics. Mas mais do que relações comerciais, o presidente Lula terá que lidar com a pressão dos chineses para que o país integre o projeto Belt and Road, que realiza investimentos chineses em países ao redor do mundo e do qual já participam países da América Latina, da Europa e nações africanas.

O plano consiste na formação de uma grande rede de infraestrutura, principalmente, portos, rodovias e ferrovias, para conectar continentes visando o escoamento de mercadorias. A adesão do Brasil representará uma aproximação maior e que envolverá também a criação de uma câmera de compensações para que as relações comerciais entre os dois países ocorra sem a necessidade do uso de dólares, como os chineses já fazem com a Rússia e com países árabes, numa tentativa de reduzir a força da moeda norte-americana. Essa posição vem com um pedido do governo chinês aos países com os quais tem relações comerciais e integram o projeto batizado como “Nova rota da seda”.





A adesão do Brasil ao Belt and Road e a criação da câmara de compensação ocorrem no âmbito dos Brics, mas aos olhos dos Estados Unidos representam uma aproximação da maior economia da América Latina com a segunda maior economia do planeta, num gesto político que pode exigir da diplomacia brasileira mais do que apenas o seu prestígio internacional recuperado a partir de janeiro. A posição de neutralidade do Brasil na disputa entre China e Estados Unidos por hegemonia exigirá que o país restrinja as relações aos aspectos econômicos, preservando sua posição de relativa independência na política internacional. No encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder chinês Xi Jinping estarão sobre a mesa mais do que compra e venda de produtos e negociações de paz na Ucrânia. As negociações envolvem a nova geopolítica em formação no mundo e o Brasil tem de estar preparado para ser cobrado de um lado e de outro.