Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
A 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), concluída nesta sexta-feira, mostra, no horizonte dos 70 anos da instituição, que os passos de seus integrantes se inspiram nos caminhantes samaritanos. Nesta direção é importante compreender que a CNBB não é um órgão de governo da Igreja no Brasil. Compreenda-se que cada diocese tem sua autonomia, sob a condução pastoral e jurídico canônica de seu bispo, vinculado ao colégio episcopal, sob a presidência do Papa Francisco, sucessor do apóstolo Pedro. Cada integrante tem a CNBB como órgão de comunhão, fortalecendo, efetivamente, a missão confiada à Igreja por Cristo Crucificado e Ressuscitado, a ser cumprida ao longo dos tempos por seus apóstolos e, por seus sucessores, os bispos. O colégio apostólico, que reúne os bispos do mundo inteiro, sob a presidência do Papa, tem em cada nação a sua conferência episcopal como instância de comunhão, fomentando a colegialidade, repartindo entre si experiências, serviços e articulada presença no conjunto da sociedade civil, sempre iluminada pela consciência de ajudar o mundo, à luz da fé e da Palavra de Deus. Assim, se arquiteta e se efetiva a Igreja em espírito sinodal.
A Assembleia Geral, instância máxima da conferência episcopal em importância, produção de experiências e garantia de serviço missionário e evangelizador, é oportunidade para o crescimento e espiritualidade de comunhão. Promove o respeito às diferenças pela tarefa exigente de torná-las uma riqueza, sustenta e inspira os bispos na condição de peregrinos e primeiros servidores do amado Povo de Deus, congregado na Igreja de Cristo. Esta Assembleia, assim, não é um congresso, embora metodologias sejam usadas, nem é um seminário ou oficina. Os bispos se debruçam, de maneira orante e dialogal, sobre o caminho missionário da Igreja no Brasil, em comunhão com a Igreja Universal, atentos à realidade social, política e cultural na sociedade. As questões e temas são muitos, abordados em profundo sentido eclesial e compromisso de fé, no cumprimento do mandato de Jesus: Ide e fazei discípulos.
Os trabalhos da Assembleia Geral transcorrem em luminoso horizonte. A CNBB é importante instrumento no conjunto da Igreja católica no Brasil para fecundar a comunhão e por ela fortalecer a sua tarefa missionária, ação inegociável. Torna-se, assim, necessário que o povo de Deus compreenda o sentido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil como instrumento eclesial de serviço à comunhão entre os bispos, em favor do fortalecimento da rede de comunidades de fé, desafiadas a estender seu raio de abrangência, alcançando periferias existenciais e geográficas. A grande inspiração e compromisso está em assumir o que configura e define o próprio Bom Samaritano. A figura do caminhante samaritano desenha o caminho dos discípulos e discípulas do Mestre Jesus, o Samaritano Redentor de todos. Num mundo adoecido, também pela indiferença alimentada por argumentos e razões que aumentam a rigidez, fomentando a prática de mentiras para atacar e destruir reputações – ser caminhante samaritano é inspirar-se por gestos concretos de misericórdia. A misericórdia autêntica fermenta os sentimentos, assentando-os na sabedoria indispensável para a verdade e distanciando-os do impulso de destruição que enfraquece instituições, segmentos e indivíduos.
O coração do caminhante samaritano cultiva o sentimento que convence: não vale a pena conduzir a vida por meio de contendas e litígios. O autêntico espírito cristão sabe que a construção da paz se opera por diálogos, mesmo quando existem contraditórios, jamais pela força da agressividade e do instinto demolidor de pessoas e instituições. Exemplar e samaritano é quem não faz guerra para impor doutrinas em lugar de comunicar o amor de Deus, distanciando-se para fazer valer seus interesses mesquinhos a qualquer custo. Indeclinável é a convicção de que correções necessárias e recuperação de +perdas no patrimônio doutrinal e moral se faz de modo exitoso pela força do espírito fraterno, apostando na construção de uma sociedade solidária. Esta construção se torna possível na medida em que discípulos e discípulas se revestem do olhar samaritano. Não há outro caminho.
Assim, as orações e celebrações, durante a Assembleia Geral, encharcam os corações, treinando amizade fraterna entre pares, fazendo crescer a consciência da missão como experiência de amor, considerando o outro como mais importante – áureo princípio de autenticidade cristã. A condição de caminhante samaritano afetou o coração dos bispos, de assessores, de colaboradores e de representantes de organismos do povo de Deus. À luz desta compreensão, brota a gratidão por tudo. Este é o grande ganho e sentido desta Assembleia. Forte é a interpelação: ser caminhante samaritano como único caminho de reconciliação. O exercício é simples, e é o segredo, como anota o evangelista Lucas: diante do homem machucado a competência de ver e sentir compaixão, fazendo nascer a seriedade e fecundidade do ser cristão autêntico.