Sheyla Patrícia Pereira
Sócia diretora-executiva da Father Estratégias Internacionais
A divulgação sobre as instalações da Shein no Brasil movimentou o mercado nacional, principalmente os segmentos da moda e do varejo. O principal foco das abordagens envolveu questões tributárias e trabalhistas, ressaltando a ameaça a grandes marcas brasileiras e a competitividade desleal que a operação da gigante chinesa pode proporcionar à comercialização das nacionais.
De fato, há muito o que ser debatido – e talvez cada conjectura sobre o tema carregue sua parcela de razão ou até de devaneio: tem muita coisa em jogo nesse momento econômico que o país enfrenta, ainda cercado de incertezas num modelo de poucas garantias de sustentação em médio e longo prazos.
Mas o que me traz à reflexão é algo para além do anúncio em si. Mais do que nunca, as empresas locais precisam refletir sobre os caminhos que estão trilhando, principalmente no que diz respeito à competitividade e às estratégias de conquista do consumidor. Por esse episódio, ficou claro que o Brasil é uma terra fértil para empresas estrangeiras e, se os empresários locais não iniciarem um movimento de busca pelos consumidores globais, quem dará a tacada – que pode ser fatal – serão os concorrentes mundiais, que se tornarão locais, arriscando a permanência dos negócios com presença geográfica limitada.
É preciso olhar para dentro de casa e traçar um movimento reverso, identificando as oportunidades mundiais de venda do seu produto. Talvez esse episódio da Shein seja um pontapé para destruir o estigma de que a internacionalização é para poucos e sirva para abrir a mente de empresários, independentemente do porte da empresa ou ramo de atuação, do quanto estar no mercado externo é uma necessidade de sustentabilidade do negócio.
Enxergar além das fronteiras físicas – e reconhecer possibilidades em outros países que não o de berço – é uma constante na rotina estratégica de empresários mundo afora. E o Brasil está na mira de muitos deles, por vários fatores que ressaltam as vantagens de concorrência com as empresas nacionais.
Aderir à dinâmica de se estruturar para alçar novos voos – literalmente – é urgente para aqueles empreendimentos que se preocupam em manter o nível de competitividade e buscam ascensão. As possibilidades estão aí – e explorá-las não exige mais do que um planejamento conciso que permita a atuação para além do mercado local. Longe de ser uma aventura, partir para um processo de internacionalização requer estudo, suporte técnico, análises e estar disposto a encarar o novo. Com todas as amarras bem-feitas, as chances de sucesso são significativas – os brasileiros, no papel de consumidores externos das empresas de fora, que o digam.